O Velho Assoalho de Nogueira
Eu era muito pequena. Devia ter uns cinco, seis anos de idade, mas minha estatura era abaixo da média. Como nasci prematura, tinha acompanhamento médico desde o nascimento para adquirir estatura e peso. Muita gente perguntava se eu tinha três anos de idade. Lá em casa éramos minha mãe e meu pai, que perdera a fala após uma doença das cordas vocais.
Estávamos todos sentados na sala quando o telefone tocou. De repente meus pais saíram apressados. Minha mãe me disse para ficar quietinha no meu quarto. Eles precisariam sair, mas voltariam logo. Falaram ainda que a vizinha já estava vindo para casa ficar comigo.
Fiquei muito assustada com a situação e antes mesmo que pensasse em contestar apenas ouvi o barulho da porta fechando, sob as recomendações de minha mãe.
Corri para o meu quarto e liguei a TV até a vizinha chegar. De repente uma forte chuva começou a cair. A intensa enxurrada adentrava os canos das calhas como um oceano em ressaca. O telefone novamente tocou. Era a vizinha avisando que não teria como vir para casa devido à intensa chuva, mas que eu poderia ligar em caso de emergência.
A chuva ficou mais forte e a imagem da TV ainda mais distorcida do normal. Meu medo me percorria da cabeça aos pés de forma violenta. As luzes começaram a piscar até se apagarem por completo. Agarrei meu ursinho e me cobri com o edredom. As notas musicais dos respingos na janela pareciam ensaiar uma canção de terror.
Meus olhos começaram a pesar e antes mesmo que percebesse, acho que adormeci.
Ouvi um ruído que parecia vir da sala, como que uma bola de metal rolando pelo velho assoalho de madeira, fazendo-me acordar assustada. Acho que dormi por várias horas, pois os números fluorescentes do velho despertador à corda marcavam dez para as três da manhã.
O ruído voltou e pareceu ter batido contra a porta cerrada do meu quarto. Tentei exalar um grito, mas temia ser ouvida por seja lá quem fosse ou o que fosse. Minhas pequenas mãos transpiravam de forma tão intensa que os pelos do ursinho deslizavam encharcados.
Parecia que aquele terror todo não iria parar. Não parecia mais ser uma bola de metal. Eram passos! Sim, eram passos sobre o velho assoalho de nogueira. Ouvi o rangido das dobradiças da porta do meu quarto. Comecei a sentir meu colchão encharcar com minha urina incontida. Eu tremia sem parar, embora tentasse ao máximo conter qualquer tipo de ruído. Sentia cada passo como sendo dinamites, que explodiam, uma após a outra. Senti um peso sobre a minha cabeça. Minha reação foi agarrar o denso tecido, mas aquela mão o puxava, tentando descobrir meu rosto.
Não teme mais como me segurar. Comecei a gritar desesperadamente. Meus bracinhos finos batiam contra o aquilo que tirava o lençol de meu rosto. Meus olhos, trancafiados, lacrimejavam sem parar. As luzes se acenderam. Senti uma calma inexplicável e um perfume conhecido. Com uma estranha coragem, abri meus olhos e contemplei aquela figura que aterrorizava-me por completo. Era meu pai, que acabava de ter chegado.