Os Dentes de Berenice
Uma idéia de onde ela vem?
Que na mente apossa,
Estarei insano ou talvez o bem
Na alma só se acossa?
Tive por certo tempo obsessão
Por certa coisa doentia
Como um tipo de possessão
Pela mente isso retorcia
Eram tão brancos em candura
Que sorriam reluzentes,
Foi o motivo da minha loucura
Aqueles brancos dentes!
Tão brancos que brilhavam
Quando ela a mim sorria,
Com o silêncio me chamavam
Em uma doida agonia
Brilhavam como os diamantes
Que o entalhador apenas lima,
Alvos como as pérolas amantes
Eram os dentes da minha prima
Quando eu tentava repousar
Via-os assim tão salientes
Era o terror que vinha assustar
As imagens destes dentes
Estava senão assim perturbado
Com a idéia de tê-los comigo
Todo dia após ter-me levantado
Ao álcool um trago amigo
Certa vez o criado me acordou
Com os olhos vidrados me via
Na voz entrecortada sussurrou
Algo que eu ainda não ouvia
Falou que ouvira apenas gritos
Assim parecia que me disse
Pareciam dos fúnebres ritos
Vindos do quarto de Berenice
Percebi que a minha camisa
Suja com o sangue de alguém
Era fria como a leve brisa
Mas não havia visto ninguém
Meus dedos assim lacerados
Estavam moídos em dor
Pareciam estarem cortados
Em uma visão de terror
Caído ao lado do meu leito
Próximo ao velho e sujo diário,
Senti-me um refém perfeito
Ao ver o instrumento dentário
Foi quando me dando conta
Não acreditei na minha crendice
O criado para um frasco aponta
Lá dentro os dentes de Berenice