Cercada pelo medo

Bem, sempre tive medo daquelas estórias contadas à beira da fogueira em épocas de quaresma. E esse medo tornou tudo tão real.

Há dias sentia que alguém estava a minha espreita. Passei a andar armada enquanto os olhos amaldiçoados da noite me cobriam.

Sempre fui uma mulher independente e me tornei policial muito cedo. Mas o hábito de usar armas fora do horário de trabalho nunca foi algo que me agradasse, já que sempre carregava em meu cerne o anseio de ter que dispará-la.

Alienei-me com essa idéia louca de perseguição, pois sempre que meus passos cruzavam a avenida saindo da delegacia, sentia que algo ou alguém me perseguia. Ouvia barulhos estranhos, como o de algo de metal se arrastando pelo chão.

O uivo da noite chegava gélido e transpassava a pele de minha farda, chegando a minha epiderme. Convenhamos que para uma policial, eu era deveras covarde, mas entenda, nunca tive medo dos vivos, os mortos é que me assustavam.

Quando olhei para trás naquela noite após o término de meu turno, soube que era hora de correr. Tentei sacar a arma e disparar, mas estava travada, pois acabara de ver uma enorme sombra de algo de orelhas pontiagudas, uma boca enorme e um formato animalesco se postar na parede lateral de um beco. O som metálico chegou até mim, assustador.

Em meio ao meu desespero caí no chão e vi que a criatura se aproximava. Fechei os olhos enquanto segurava firme a arma em minhas mãos. Dois disparos, o barulho ecoou adentrando o beco enquanto eu ouvia o barulho das correntes chegando até mim. A sombra tornou-se cada vez mais estranha e pude ver a figura monstruosa de repente mostrar-se cada vez mais familiar.

Ri sozinha enquanto um pitbull enorme, mas menos assustador que o reflexo feito pela lampada do poste chegava até mim. Olhei para ele e vi a corrente que o mesmo arrastava e por fim o sangue manchando o metal prateado, entretanto estranhamente o cão não estava ferido.

Só aí ouvi o gemido baixo da figura caída a metros de nós, um garoto de seus quatorze anos, que sempre passava por ali àquele horário para passear com o cão.

Ás vezes, tamanha a força do cachorro, em meio à correria desenfreada do animal, o cão se desvencilhava dele e corria livre aguardando o dono capturá-lo, tudo uma ligeira brincadeira pois os dois eram grandes amigos.

O cão deitou-se ao lado do garoto enquanto o mesmo ainda cuspia o sangue que escapava em meio à tosse rouca e funesta. Duas outras manchas de sangue, uma no ombro e outra na barriga, sentenciando o garoto a morte. Assim que o menino fechou os olhos o cão encarou-me com um ar desprezo, me condenando.

Mal tive tempo de reagir, acordei no hospital e completamente ferida, uma dor dilacerante cortava minha pele, meu rosto desfigurado e marcado enquanto uma enfermeira regulava o conta gotas de meu soro.

- Onde estou? – Perguntei ainda confusa. – Ela virou-se para mim, e passou as mãos sobre minha testa carinhosamente.

- Está no hospital querida - ela disse contando-me toda história - Fique tranquila, você se salvou por pouco, mas vamos dar um jeito em você - Ela disse com uma voz meiga, porém ao mesmo tempo seu olhar era assombroso - Você tem visita – completou, enquanto abria a porta – Ergui um pouco a cabeça a fim de ver quem era, mas não havia ninguém. Foi então que eu senti aquele cheiro e a enfermeira sorriu para mim retirando a roupa branca e revelando uma camisa com a foto daquele garoto e a seguinte frase:

- Morte para assassina de crianças – Havia uma foto dela junto da criança, logo deduzi que era sua mãe. Ouvi novamente aquele barulho que me perseguiu, o ruído das correntes se arrastando pelo chão e abruptamente o cão saltou com sua boca aberta, suas patas por cima da cama sujando o branco lençol, enquanto mirava diretamente em meu pescoço e a mãe do menino trancava a porta atrás de si.

- Pegue ela, Rex! – Foi a ultima coisa que ouvi antes de sentir a morte me abraçar.

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Sejam bem vindos!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 04/07/2012
Reeditado em 04/07/2012
Código do texto: T3760234
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