Seu fantasma na neblina
Todas as noites os pesadelos
Embriagam-me em tanto horror,
Fazendo erguerem-se os cabelos
Suados nos banhos em pavor
Sempre ao deitar eu percebo,
Sua presença me incomodar
É um misto de pavor e medo
Longos anos ao me deitar
Ouço-a com a voz tão calma,
Murmurar algo sem sentido,
Preenchendo a minha alma,
Com um horror desconhecido
Nunca muda a mesma imagem
De quando ela eu sepultei,
Parece real além da miragem,
Como se tudo presenciei
Veste sempre o carmesim
Quando morreu no casamento
Faleceu antes de dizer o sim,
E agora se tornou meu tormento!
Certo dia ao sono me despertar,
Fui a clareia buscar lenha,
O sol parecia não querer acordar
Travando a luta ferrenha
Ao caminhar pela trilha,
Envolveu-me densa neblina
Tão branca que até brilha
Vi a figura de uma menina
Andava com certa moleza,
Levando um buquê murcho,
De pronto nela havia beleza
Sem pobreza ou menos luxo
Os negros cabelos enrolados,
Reconheci de imediato
Grandes em pequenos cachos
Eu observei neste fato
Já não sei se a consciência
De mim foi-se embora,
Do que vale toda sapiência
Quando vejo senão agora
Um vulto seguir-me andando
Quando ando por esta sina
Minha esposa se aproximando
Era seu fantasma na neblina!