Uma nova noite. Uma nova Carla...
Uma brisa fresca entrava pela janela entreaberta do quarto de hotel. Era uma madrugada escura, mas ainda assim era possível distinguir perfeitamente a figura pálida e esguia de Marcos, apenas porque ele assim desejava. Era uma linda mortal deitada com ele na cama, seus traços italianos lembravam um pouco a beleza de sua amada Carla, do mesmo jeito que todas as outras; nunca chegavam a ser tão belas, não seria possível, mas as boas memórias que ressuscitavam faziam por valer sua compania.
Marcos observava as sombras projetadas por seu corpo dançarem nos seios nus de sua próxima vítima, a moça contorcendo-se de volúpia. Foram quase dois meses de paixão e rebeldia, o vampiro mascarando suas mordidas como atos de luxúria, tomando apenas um pouco de cada vez. Tomava apenas o suficiente para matar sua fome, mas nunca tanto que aos olhos da mortal parecesse um problema maior que uma leve anemia. A anemia durara tempo demais, no entanto. A fraqueza, a sonolência e o enjôo, tudo começava a se tornar suspeito. A moça contou que se sentia preocupada, que estava com medo de estar grávida. Quando fizesse o exame e soubesse que não engravidara... Talvez levasse algum tempo, mas ela perceberia que os sintomas surgiam logo depois das noites com Marcos, logo depois das mordidas. E ela talvez não acreditasse, nem o médico para quem ela contaria o caso, ou a esposa do médico, ou a amiga da esposa... Mas alguém, algum dia, desconfiaria de caninos pontiagudos e isso não era bom.
Ao aproximar-se o momento final, até mesmo o ar parecia mais frio, denso, rarefeito... Qual era mesmo o nome da jovem? Bianca? Beatriz? Não mais importava. Ele mordeu o seio da mortal, como um bebê que toma o leite de sua mãe. E tal como um bebê, ele também se alimentou. E quanto mais ele se alimentava, mais absorta de prazer a vítima se tornava, empalidecendo pouco a pouco, morrendo pouco a pouco...
A brisa parou. As nuvens se dissiparam, abrindo espaço para os raios de luar. E a lua cheia iluminou o rosto frio de Marcos enquanto ele enxugava os lábios com um lenço anormalmente branco. E os olhos vermelhos do vampiro foram se tornando pretos novamente. E a moça tornou-se apenas mais uma lembrança, apenas mais um refúgio artificial da memória de Carla.