O VAMPIRO DA RUA SÃO FRANCISCO

Era tarde da noite quando ela chegou à rua indicada, estacionou o carro a duas quadras e seguiu a pé até o local, estava frio, mais do que o comum naquela viela escura, uma neblina densa enchia o ar de pequenas gotículas brancas e geladas.

Ela caminhava depressa, já quase arrependendo-se da decisão tomada por impulso, seu hálito projetava-se formando desenhos na fumaça, seus passos ecoavam no deserto silencioso em que encontrava-se, e finalmente frente a uma calçada fendida pelo tempo e pelo abandono, erguia-se um prédio velho de estrutura antiga, janelas grandes, porta adornada com pequenas gárgulas e um aspecto assustador, tirou do bolso um envelope verde, desamassou, pegou o bilhete e com um esforço para ler no escuro, confirmou o endereço, deu mais uma olhada no prédio, respirou fundo e levou o dedo a campainha... Nada.

Olhou no relógio, era tarde, sentiu-se tentada a ir embora, então resolveu dar mais uma conferida no que tinha em mãos, leu todo o conteúdo do bilhete... Releu. Não podia desistir... ou nunca saberia... nunca teria certeza. Não conseguiria viver se simplesmente desistisse.

Então a jovem bateu a porta, mas antes de completar três batidas, a porta se abriu, como em uma cena de filme. Ela procurou ignorar o fato e adentrou ao prédio escuro, uma longa escada levava ao início de um corredor iluminado apenas por pequenas lâmpadas imitando velas, a despeito do medo ela seguiu em frente, quase podia ouvir as batidas do seu coração, mas alguma coisa dizia que aquilo tudo valeria a pena... sua vida, com certeza, iria mudar.

Ao final do corredor estreito havia uma pequena porta entreaberta, ao aproximar-se sentiu um forte cheiro de morte. Recuou. Mais uma vez estendeu o bilhete sob os olhos, suas mãos tremiam, leu seu conteúdo, como que para criar coragem e seguiu em frente esforçando-se para sustentar-se sobre as pernas trêmulas, empurrou a porta bem devagar e entrou no quarto escuro, o cheiro de podridão misturava-se com o odor úmido de mofo. E lá estava ele, em pé frente à janela de vidro olhando para fora, era grande, o corpo coberto por uma capa preta, virou-se devagar um capuz escondia seu rosto. Ela teve vontade de fugir, mas a porta se fechou. Ela estava presa. Arrependeu-se da decisão de estar ali, lembrou-se de que não avisou a ninguém, pensou em gritar, mas não tinha voz.

Ele aproximou-se lentamente até tocá-la com suas mãos grandes e ásperas, deslizou os dedos pela pele macia do rosto dela e a segurou pelo pescoço revelando seu rosto disforme e seus olhos púrpuras, ela tentou gritar, mas tudo que consegui foi gemer e chorar baixo.

Ele era forte, apertava seu pescoço sem que ela pudesse reagir, aproximou-se de seu rosto e lambeu as lágrimas quentes que escorriam, ela desesperada tentava sem sucesso escapar das garras daquele monstro, então ele a cheirou, mostrou-lhe os dentes pontiagudos e a mordeu arrancando um pedaço de carne macia do seu rosto... enquanto o sangue quente jorrava ele comia com voracidade as partes mais tenras do corpo dela, cuidando para que a jovem demorasse a morrer, assim teria carne fresca por mais tempo.

Depois do jantar, satisfeito, ele novamente olhava pela janela, o mundo deserto, gelado, triste... e lágrimas rolavam pelo rosto da criatura como a chuva pelo vidro fino da janela.

Na manhã seguinte pelas ruas estreitas de paralelepípedos, um mendigo sujo e deformado passava despercebido, enquanto derrubava pelas vielas em lugares estratégicos, suas iscas, pequenos envelopes verdes.

Eliane Verica
Enviado por Eliane Verica em 26/06/2012
Reeditado em 03/07/2012
Código do texto: T3746067
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