Herança maldita
Eram dez horas da manhã quando o garoto entrou no quarto. Havia acordado há bastante tempo e como a mãe não descera para preparar o café, resolveu ir acordá-la. A mulher parecia dormir profundamente, mas quando a criança se aproximou ela gemeu baixinho, abriu os olhos e após um suspiro fraco se aquietou. Apesar de ter apenas oito anos o menino já assistira televisão o suficiente, para entender que o sangue que saia do peito da mãe e escorria pelo chão, significava algo muito sério. Começou então a gritar por seu pai. Sabia que aos domingos ele ficava em casa. Seus gritos ecoaram pela casa sem resposta. Seus avós moravam na mesma propriedade e o menino foi em busca de ajuda. A porta da frente estava entreaberta. Dentro da casa tudo era silêncio. Chorando baixinho o garoto foi ao quarto principal. Viu o avô caído ao chão com a cabeça totalmente destruída. Apavorado ele foi ate a cozinha, e lá encontrou a avó também morta. Uma faca havia sido totalmente enfiada nas suas costas. Chorando e gritando o menino chegou à delegacia local.
Doze anos se passaram. Wiliam se tornou um rapaz trabalhador e muito responsável. Era querido por todos na cidade e o orgulho do casal que o adotara. Na época em que os familiares do menino foram mortos, o delegado fez oque foi possível para descobrir o paradeiro do pai, mas não teve êxito e sem conhecer nenhum outro parente, o colocou em um orfanato. Sônia e Aloisio que estavam casados há quinze anos e nunca tiveram filhos, quando souberam da triste história de Wiliam decidiram adotá-lo. A tragédia deixou marcas, o rapaz tomava remédio controlado e tinha pavor de lugares escuros. Periodicamente tinha pesadelos e ligava toda hora para os pais adotivos para saber como estavam. Estava noivo de uma bonita moça e os preparativos para o casamento já haviam sido iniciados. Ninguém na cidade sabia da saúde precária de Wiliam, nem mesmo sua noiva. Aparentemente o rapaz era saudável, mas Sônia e Aloisio sabia que sem o uso dos remédios o filho tinha ataques de loucura e podia se tornar violento. Esperavam que com o passar do tempo, o próprio rapaz contasse a verdade á noiva, mas Wiliam estava muito apaixonado e por medo de perder a futura esposa se calou.
O tempo passou e chegou o dia do casamento. Após a cerimônia e a festa no clube da cidade, os noivos partiram em lua de mel. Dois dias depois Wiliam voltou sozinho para casa no meio da noite. Sônia e Aloisio perguntaram então pela nora, mas o rapaz disse apenas que ela dormiria aquela noite na casa dos pais. Como o filho estava tranquilo esqueceram o assunto e foram dormir. Quando Sônia acordou na manhã seguinte encontrou o filho morto no banheiro. Wiliam havia cortado os pulsos e sangrara até a morte. Desesperada acordou o marido e juntos foram á casa dos pais da nora, mas a moça não aparecera por lá. Com um terrível pressentimento procuraram a polícia, e essa após investigação descobriu que Wiliam havia matado a esposa na noite de núpcias. Seu corpo foi encontrado em uma estrada deserta. A garota estava com o rosto desfigurado e tivera o coração arrancado. A faca afiada ainda estava ao lado do corpo. Vânia Lopes 26/06/2012