Picadinho de marido

As cenas do assassinato bárbaro do empresário da Yoki não sai dos noticiários, e por consequência, das nossas cabeças. A violência está se transformando em banalidade diante da sucessão hedionda de crimes assim. Não dá para imaginar o que passa na cabeça de um ser humano quando se torna capaz de matar e picar friamente aquela pessoa com a qual dividiu sua vida, seus sonhos, seus momentos mais íntimos. Ainda mais quando esse ser humano é uma mulher, sendo as mulheres os seres que mais têm compaixão, que se emocionam mais diante da dor e do sofrimento do outro. Essa com certeza era uma exceção.

Já houve outros casos assim. Lembro-me de outro crime que chocou o noticiário. Outra mulher, não sei bem em que estado do Brasil, resolveu dar cabo do marido de maneira tão macabra quando essa. Só que ao invés de jogar os pedaços do coitado pelos caminhos, a infeliz resolveu fazer um picadinho e convidar os amigos para uma festa, regada à cerveja e carne humana. Foi a forma inteligente que ela encontrou para dar fim ao cadáver sem deixar suspeitas. A cabeça ela assou no forno à lenha, até que os ossos sumissem, para não deixar pistas. Mas sempre fica alguma e sempre acabam encontrando o fim da meada quando alguém desaparece sem notícias. Nesse caso, foi a mãe que não se conformou com o sumiço do filho. E tem ainda o caso das empadas feitas com carne humana, horrores que a gente nem acredita que possam acontecer neste mundo, mas acontecem. E tem acontecido muito nos últimos tempos.

Ainda não foi elucidado o assassinato de Elisa Samúdio e o seus assassinos permanecem em silêncio na prisão, esperando que os fatos esfriem para que o julgamento aconteça. Essa é uma prática comum na justiça brasileira. Quando há muita repercussão e cobrança da sociedade, acalmam-se os ânimos com uma presumível atitude para mostrar que a justiça existe. Mas julgamento rápido e com pena justa só acontece quando os réus são pobres. Fosse a Elisa oriunda da alta sociedade, os assassinos já teriam sido julgados e estariam cumprindo pena, ao invés de estarem aguardando habeas corpus.

As pessoas que não carregam Deus no coração, ou que não têm o apoio da família na construção de seu caráter e formação, estão se criando frias, vazias, sem escrúpulos e sentimentos. Não têm amor ao próximo, limites para seus atos e nem sentem remorsos quando prejudicam ou machucam alguém. E ainda têm as falhas da justiça para atenuar o medo das consequências pela ousadia de não se cumprir a lei. São muitas as causas da violência que nos rodeia, que nos tiram as noites de sono e a confiança nos homens que confrontamos pelos caminhos. Mas não existe uma explicação melhor que a impunidade batendo às nossas portas todos os dias. Para aqueles que já nascem o gosto de sangue na boca, a exposição da criminalidade na mídia é fonte de inspiração e cadeia é só um tempo de descanso entre uma barbárie e outra, pois sabem, assim como todos nós, que as penas impostas aos assassinos no Brasil têm uma porta de entrada, mas também têm várias de saída. Nem quando se trata destas bestas feras a justiça é feita com a seriedade que é preciso. Por isso é que acredito que ainda veremos muitos casos de picadinho sendo expostos na TV, com a narração fria e especulativa dos noticiários, enquanto a vida corre lá fora. Muita gente vai apenas olhar com os olhos da indiferença, e só haverá lágrimas ou compaixão quando as gotas de sangue respingarem nos seus. Por enquanto, é tempo de deixar a dor lá fora...

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 24/06/2012
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