Magia Negra

Verônica era uma moça calma, esbanjava beleza, longos cabelos vermelhos até a cintura, cheios, ondulados, olhos verdes, corpo atraente, no auge de seus 25 anos, fogosa, quase insaciável, tinha todos os adjetivos principais para fazer qualquer homem feliz, mas apaixonara-se pelo cara errado, um tipinho feio, magrelo, alto que mais a humilhava do que qualquer outra coisa, estava farta de ser tratada como lixo mas era tola, tinha medo de não conseguir mais ninguém. Boba, linda como era ? Fariam fila para ter uma chance com ela mas, ela insistia em ficar debaixo dos pés daquele idiota que um dia sem mais nem menos deu-lhe um tremendo pé da bunda, sempre a inferiorizando em tudo, quem ele achava que era ? Era um lixo de gente e não respeitava quem mais o havia ajudado, tipo ignorante que nem um documento pessoal era capaz de tirar sozinho, não fosse a namorada que agora ele deixava.

A moça passou meses em profunda depressão, era como se o mundo tivesse acabado para si, foi difícil mas aos poucos foi retomando suas atividades, emprego novo, novas amizades também chegaram e um fato inesperado, a atual de seu ex começou a trabalhar no mesmo lugar que ela, já conhecia a fulaninha que tinha certeza, causara sua separação, o ódio a consumia por dentro, tinha que diariamente ver a cara seca, feia, sem graça da talzinha que espalhava fotos suas com o novo namorado pela mesa, torpedinhos, ligaçõezinhas durante o dia, sabia quem era Verônica e parecia fazer de propósito, por pura provocação. Gostava de ver que a moça se sentia mal, atingida e Verônica não conseguia esconder nada disso !

Todas as noites chorava de raiva, desgosto e se aprofundava em seus estudos, bruxa nata estava cada vez mais ligada à magia negra, tinha sede de vingança e não deixaria aquilo passar batido, não, os dois teriam que pagar, o ex e a atual dele, pagar por tudo aquilo que ela sofria ! Tantos casais se separam, normal, mas ele abusara demais dela, a humilhou muito, chegara mesmo a bater nela por causa da outra, e agora eles eram felizes ? Em cima de seu sofrimento ? Não, isso estava errado !

Os dias foram passando e mais ela era provocada, engolia a seco, não poderia se prejudicar no trabalho por causa da outra, tinha vontade de voar nela mas não poderia ! Mas ela estava pedindo ! Seu nome a muito tempo já estava no círculo de magia que Verônica fizera, já era evidente que ela passava mal no trabalho, queixava-se com as colegas, seria algo que havia comido ? Não ! Definitivamente não ! Seu nome estava escrito de cabeça para baixo no pentagrama invertido desenhado com giz preto e coberto com terra de cemitério.

"Deve ser essa bruxa invejosa que ainda pensa no MEU namorado, cretina !" - disse em tom rude olhando para Verônica, esta deu de ombros sem deixar de lançar um olhar ameaçador para a outra para mas por dentro aquilo ferveu, passou o dia maquinando e tremia de raiva, ao fim do expediente notou que Bruna, a tal que despertara seu ódio estava sozinha, Diego não havia ido buscá-la como começara a fazer ultimamente, a ouviu no celular dizendo um "tudo bem eu vou sozinha amor não se preocupe". Estava um fim de tarde nublado e frio, Verônica seguiu a outra sem que fosse notada, mantinha uma certa distancia e ao passarem por uma rua quase vazia, uma viela que cortava caminho para uma estação de metrô, apressou o passo, a alcançou e a empurrou contra a parede fazendo-a ralar as mãos no reboco inacabado.

"Que isso sua louca ? Quem você pensa que é ?" - desferiu a outra se virando para sua agressora.

"Escuta aqui sua piranha, não aguento mais suas provocações, você quer ficar com aquele lixo que fique mas saia do meu caminho, não queira saber quem eu sou porque se eu tiver que te mostrar, coitada de você, eu destruo você, será que fui clara ? Só estou te dando um aviso, se você me provocar mais uma vez, você vai se arrepender, eu arrebento você de porrada sua idiota." - disse e então soltou a outra, a havia imobilizado com o braço em sua garganta. Se afastou e foi para casa, a outra correu para o metrô, com medo.

Antes de chegar em casa Verônica passou no açougue para comprar algumas coisas, coisas um tanto incomuns, pegou o embrulho e seguiu seu destino, era uma sexta feira, dia propício a fazer suas magias e as já tinha em mente, sabia bem o que iria fazer. Acertaria as contas com quem merecia !

Perto da meia noite, quando todos já dormiam em casa, Verônica tirou o pacote que havia colocado debaixo da cama, usando apenas sua túnica negra com capuz iniciou suas orações negras.

Primeiro faria o ritual para Diego, havia comprado uma língua de boi e fazendo um corte no meio desta colocou no interior uma pequena foto do rapaz com seu nome escrito de cabeça para baixo, colocou o quanto pôde de pimenta dentro da peça e costurou com linha preta, terminou de fechar a língua com alfinetes, colocou a mesma dentro de um prato de barro e cobriu com azeite, por fim quebrando ovos sobre tudo, até a coisa desaparecer sob as gemas e claras, deixou de lado, ainda dentro do círculo com o Baphomet (pentagrama invertido). Havia chegado a hora de se vingar da outra, para esta adquiriu uma coxa de vaca, acabou por conseguir cabelos de Bruna, colocou-os dentro de um saquinho e costurou depositando o mesmo no interior da coxa em meio ao sangue, costurou terminando de fechar com pregos enferrujados, seguiu para o cemitério levando os dois trabalhos, a coxa, enterrou fazendo uma cruz com velas pretas, entoou um cântico a Lúcifer fazendo uma oração negra, virou as costas e na porta do cemitério, deixou o prato com a língua de boi, quebrou 7 velas pretas e deixou ao redor do prato, seguiu sem olhar para trás.

Passaram-se uns dias e entre perto e longe sabia o que se passava com eles, com o casalzinho que lhe causava nojo, permaneciam juntos mas a saúde de ambos não andava bem, um dia antes Bruna fora atropelada, em frente o trabalho, nada grave, apenas uns arranhões, uns hematomas algo que dera-lhe um dia de dispensa do trabalho. Mais dias foram passando e ela continuava provocando Verônica, fez com que esta perdesse o emprego fazendo um erro grave no sistema e por fim colocando a culpa em Verônica. A bruxa nem se importou, já estava farta do lugar e era um favor que lhe faziam, o ruim era levar a culpa de algo que não havia feito, sabia quem havia causado sua demissão, já sabia os dias que Bruna ia sozinha para casa, Diego estava fazendo um curso e por isso não a ia buscar. Ficou à espreita na ruazinha deserta e a puxou pelos cabelos para dentro de um beco, mesmo a outra se esquivando, xingando, não conseguiu se livrar da fúria de Verônica, que bateu tanto na ordinária, tanto que esta ficou sem um único dente na boca de tantos tapas, socos e chutes que levara, Verônica parou de chutar Bruna caída ao chão antes que a matasse, Bruna ainda estava consciente quando ouviu:

"Isso é pra você aprender a não mexer comigo, eu te avisei sua piranha."

Verônica foi embora deixando a outra lá se contorcendo, os dias passavam e ela de longe mantinha-se informada sobre o que se passava, Bruna se recuperou da surra, que a deixou ainda mais feia do que já era, por medo ou sabe-se lá por qual motivo não deu queixa na polícia nem contou a ninguém de quem havia apanhado daquele jeito.

Tudo parecia ter voltado ao normal, o casalzinho postava fotos e frases do quão felizes estavam nas redes sociais, planejavam casamento, já moravam juntos, três meses e Verônica refez os trabalhos negros dando mais força para que o resultado fosse satisfatório e seria ! As forças do lado obscuro não deixava nada sem resposta, assistiu de camarote a sua vingança. Eles receberam o que mereciam !

Diego ficou completamente perturbado, tudo que tinha ao seu redor, destruía, durante uma briga com Bruna, bateu tanto na garota que acabou preso, todos acharam que ele havia batido nela também da outra vez que ela chegara em casa sangrando. Bruna sofria por vê-lo preso, longe e sequer era reconhecida por ele quando o visitava, louco como estava, se enforcou com o lençol na própria cela bem no dia de visitas, Bruna teve de vê-lo para aumentar sua tristeza e desespero, ela, dias depois, voltando da faculdade se tornou refém de um viciado que invadira o ônibus atirando para todos os lados, ferindo várias pessoas, ela, depois de horas de angústia, foi morta durante a negociação, um policial errou a mira e a bala a atingiu diretamente na testa.

"Aqui se faz, aqui se paga, nada é por acaso, cada um tem o que merece". - exclamou Verônica ao saber da morte da outra pelo noticiário.

Sandra Franco Der Rosenrot
Enviado por Sandra Franco Der Rosenrot em 20/06/2012
Reeditado em 20/06/2012
Código do texto: T3734986
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