NOVE DIAS ZUMBIS

Primeiro dia. Os boatos foram confirmados. Hoje às três horas da tarde todos nós aqui no trabalho paramos para ouvir o comunicado da presidente. A primeira infecção foi registrada no estado do Rio Grande do Sul, e o estado estava em quarentena.

Segundo dia. Hoje o dia no trabalho foi diferente. Todos estão apreensivos e desconfiados. As notícias indicam um furo na barreira de contenção, e correm boatos de que alguns homens da força de esterilização foram infectados. Às oito horas da noite foi emitido um comunicado desmentindo a situação.

Terceiro dia. Eu e meu irmão passamos em alguns mercados hoje. Todos estavam lotados e ficamos duas horas na fila. Compramos sacos de arroz, água e quatro botijões de gás. O dia estava silencioso. Ninguém comentava sobre o assunto. O silêncio era perturbador.

Quarto dia. Eu não consigo dormir direito. Fico com os ouvidos grudados no rádio, querendo saber como está a situação, mas as notícias não aparecem, e enfim consigo fechar os olhos. Acordo com meu irmão me chamando para trabalhar. Resolvi ir de carro hoje. O silêncio que reina nas ruas parece estar se tornando perigoso. Hoje o dia foi parado. Algumas pessoas não apareceram e eu e meus amigos estamos preocupados.

Três horas da tarde. Outro comunicado é emitido. A força de contenção fracassou e o cerco ao Rio Grande do Sul está aberto, fomos orientados a voltar para casa e lá permanecer até segunda ordem. O toque de recolher é hoje às 23 horas.

Quinto dia. Algumas rádios saíram do ar. A Central de Notícias Nacional ainda está transmitindo. Hoje pela manhã saquearam o mercado. Tento relaxar e assisto a um DVD de comédia. Por um tempo eu esqueço o que se passa lá fora e dou algumas risadas. O dia parece calmo e me sento na varanda para respirar um pouco de ar. Fecho os olhos e me belisco, mas isso não é um sonho. O apocalipse é real.

Na madrugada de hoje um carro colidiu contra um poste na esquina e o resgate não veio. Ao invés disso um furgão negro com símbolos de infectante colados em suas laterais parou ao lado do veículo todo amassado. Dele desceram homens com máscaras e um enorme saco preto. Um deles parou e fez sinal para que eu saísse da janela. Assim que virei às costas ouvi o disparo.

Sexto dia, sexta-feira, 09 horas da manhã. Perdi a conta de quantas viaturas passaram pela avenida. Todas em disparada e por último o enorme furgão que vi durante a madrugada. As notícias no rádio tinham cessado de vez. Na Central de Notícias, um samba decadente emprestava um desagradável som a tudo o que acontecia a nossa volta.

Resolvi sair com meu irmão e ir até a delegacia. Havia uma multidão a sua volta e dois policiais tentavam conter os ânimos mais exaltados. Foi quando nós vimos.

Uma mulher se debatia descontroladamente no chão e antes que qualquer um imaginasse, seus olhos se tornaram negros e ela mordeu o pé de um garoto que caiu gritando ao seu lado. O pânico foi geral. Todos saíram correndo e os policiais entraram em uma viatura. Subi em um muro e tentei localizar meu irmão. Ele corria com dois zumbis atrás dele. Não houve tempo de reagir. Ele tropeçou e foi dilacerado. Eu ainda podia ouvir seus gritos quando a viatura se chocou contra um poste logo a minha frente.

Desci do muro e travei uma luta com uma mulher que tivera a mesma ideia que eu. Dei um empurrão nela, que ao cair para trás foi alvejada por mais zumbis. Os policiais se debatiam no interior do veículo, mas ainda tive tempo de tirar o revolver da cintura de um deles.

As pessoas que não estavam contaminadas corriam, e neste momento eu só pensei em ir para casa. Olhei para trás e vi meu irmão se levantando e se juntando aos outros mortos que agora caminhavam por todas as direções.

Sétimo dia. Minha casa está trancada. Observo pela fresta da janela e não há sinal de sobreviventes. A rua está deserta e o rádio ainda toca musica. Arranco-o de sua tomada e o arremesso enfurecido contra a parede. Eu sabia que iria morrer. Agora era uma questão de tempo.

Oitavo dia. Hoje eu vi uma mulher pulando da janela de sua casa com um bebê nos braços. No chão, ela me implorou que salvasse sua filha. Abri a porta sem pensar e vi dois deles no meu quintal. Atirei na cabeça deles e fui até o portão. A mulher o bebê gritavam enquanto uma multidão de zumbis lhe arrancava a carne. Foi aí que um deles veio em minha direção. Corri de volta pra casa e me tranquei lá dentro.

Duas horas da manhã. Enfim escutei o barulho do meu portão caindo. Olho mais uma vez pela janela. Eles são muitos. Eu não tenho a mínima chance.

Vou até a cozinha e arrasto a geladeira contra a porta. Escuto seus tapas e empurrões forçando-a, tentando abri-la e entrar. Caminho a passos lentos em direção ao meu quarto e ligo minha TV. Satisfeito pela energia não ter acabado ainda, coloco um desenho e rio forçadamente. A arma está sobre a cabeceira. Enfim escuto a geladeira cair e os passos deles pelo corredor.

A porta do meu quarto é aberta, e quando vejo o primeiro zumbi não tenho dúvidas. Atiro em minha cabeça. O sangue quente jorrando só atrai mais deles, que seguindo pelo seu olfato se atiram sobre mim. Sou infectado, mas não me levanto. O tiro espatifou meus miolos, e agora sou só mais um alimento fresco para eles.

Nono dia. Não há sobreviventes.

Bonilha
Enviado por Bonilha em 18/06/2012
Reeditado em 18/06/2012
Código do texto: T3730603
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.