O Ùltimo Beijo VII

O quarto permanecia na última penumbra do alvorecer. O sol demoraria alguns minutos a despontar por trás dos montes. dali, o príncipe Dlady contemplava a paisagem composta pelo arvoredo de majestosas sequoias, e proferiu em sussurro. - Quantos momentos históricos tais árvores foram tão testemunhas quanto eu... Assistiram Papas surgirem e morrerem. Reis, príncipes, rainhas e princesas chegarem ao topo e perderem tudo, por traíção, guerras ou pela velhice. Eu, também fui testemunha.

Lady Bella repousava ali, na alcova. Velava a sono solto. Dlady a observava, girava por sua cama feito lobo em volta da presa. Uma angústia dominava o seu ser. desejava-a, não como uma besta sanguinária, com sede de sangue, com fome de vida. Era desejo de amante. Quando a sede o dominava tornando-no numa fera temida fugia de sua presença - e, assim foi ao longo dos séculos com todas as suas amadas

-Ah, o desejo do sangue humano, a sede que domina o meu ser, esta me impele a matar, a fazer buscas sanguinárias. O néctar da vida, o supra-sumo que alimenta a minha alma tornando-me vivo, eterno. esta busca insana tolhiu-me dos sentimentos fúteis, da compaixão, da piedade, bondade. Porém, não me libertou da porção que habita o coração de todo ser humano, o amor. este Deus que eu renunciei nunca se posiciona como um perdedor. tem sempre um ás na manga. Suas leis, axiomas. Imutáveis, intocáveis, perfeitas.

Sou o discípulo do Senhor das Sombras, servo do mal. Colaborei com todas as ações maléficas que foram tramadas contra os pobres, contra o povo, contra a humanidade. Fui parceiros das nações que dominaram as menores nações. Dominações, escravizações, pilhagens de riquezas. genocídios. Contudo, o Deus de todos faz questão de expor em meu ser a ferida exposta, uma inflamação que me domina e me faz sentir humano.

Dizia, em sussurro para si, enquanto circundava a cama. Parou por um momento, acariciou a face rubra de sua amada. Sentou-se na cama. Dirigiu o olhar para o seu pescoço, a sua jugular ali, exposta.

- O último beijo.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 08/06/2012
Reeditado em 16/06/2013
Código do texto: T3713294
Classificação de conteúdo: seguro