Sinal de Rádio
"...e um estranho sinal invadiu as ondas."
"Tal manobra causou um estrago sem precedentes"
Caeté, Minas Gerais, agosto de 1.989. O maquinista José Alfredo, vinte e seis anos de profissão se levanta na manhã de quarta-feira, por volta das três horas. Ao dirigir-se à estação Caeté, recebe as instruções dos operadores e dirige-se à locomotiva diesel, prefixo ED650, com mais de cinquenta vagões. Após vistoriá-la minunciosamente, liga o equipamento. Pelo rádio, solicita informações ao centro de controle, pedindo autorização para seguir viagem, rumo ao porto de Vitória.
Tudo certo, o trem lentamente começa a seguir viagem. Naquela manhã gelada, a visão está bastante comprometida por um intenso nevoeiro, acompanhado de uma chuva fina.
Os anos de experiência de Alfredo lhe permitem seguir com cautela, porém certa tranquilidade, por já ter vivenciado situações semelhantes muitas vezes.
De repente, próximo a um entroncamento, José Alfredo ouve instruções pelo rádio. Ele deve parar a locomotiva antes de avançar o sinal 12UC, pois uma outra composição, em sentido oposto deverá cruzar o travessão da linha.
Após mais de trinta minutos aguardando, a composição oposta não aparece. José chama novamente o centro de controle pelo rádio. O operador informa que não há trem algum em sentido oposto e que ele deve avançar o sinal imediatamente, pois está travando o trecho com seu trem parado.
José confirma as instruções e avança.
Terminado o trajeto naquele local, após algumas horas José avista a ponte sobre o Rio São Francisco e nota algo de errado. Parece haver alguma barreira na linha, mas que não pode ser compreendida.
José novamente chama o centro de controle pelo rádio para informar o ocorrido. Não obtém resposta. Chama pelo rádio por mais três vezes sem sucesso. De repente ouve um forte chiado no rádio, e um estranho sinal invadiu as ondas: ATSEB999. O operador informa a José Alfredo:
-Maquinista da composição ED650. Aqui é o centro de controle. Prossiga sua solicitação.
-Positivo, centro de controle. Estou diante da ponte "Curaçal" com a composição parada. Parece haver alguma barreira na via, mas a forte chuva me impede de visualizar com clareza. Solicito autorização para descer e examinar a via.
-Positivo maquinista, autorização concedida. Pode verificar.
José aciona os freios de estacionamento e coloca calços na locomotiva. Caminha com dificuldades devido à imensa chuva até as proximidades da ponte. Ao aproximar-se, percebe que no local há um animal morto, aparentemente atropelado por outra composição, totalmente em pedaços. José, com um pedaço de madeira começa a retirar as partes e jogá-las na lateral da via.
De repente, estranhamente, o maquinista ouve ruídos vindos da locomotiva. Os motores começam a acelerar e a mesma, sem comandos avança em sua direção, com uma velocidade incomum, devido à carga em transporte. José tenta escapar da linha, mas escorrega nos dormentes, sendo atropelado por seu trem desgovernado.
Sem operador, o cargueiro avança sobre a ponte em alta velocidade. O declive seguinte faz com que a locomotiva aumente muito sua velocidade.
O centro de controle chama José pelo rádio, ao notar a velocidade de seu trem, sem obter resposta. Chamam novamente e após alguns minutos, ouvem um retorno, um sinal código ATSEB999, supostamente vindo da locomotiva:
-Centro de controle, aqui é a composição ED650. Estou na escuta.
-Maquinista, pare imediatamente sua composição. Está indo muito rápido, já avançou 4 sinais vermelhos e há outra unidade vindo de encontro no próximo travessão. Se continuar, vai bater.
-Centro de controle, não dá para parar o trem. Ele está sem maquinista!
-Como sem maquinista?! Com quem eu estou falando?
-Centro de controle, você está falando com ATSEB999.
Nesse momento, apesar dos esforços em avisar o outro trem, os dois cargueiros batem de forma violenta. A carga se incendeia, causando uma grande explosão, destruindo um vilarejo com mais de quinhentos moradores. Todos morrem.
Quando o corpo de José Alfredo é encontrado mutilado na linha férrea, o mesmo é levado ao IML. Durante os exames, algo muito estranho é constatado pelo médico legista. Na parte de cima de sua mão direita e em sua testa há uma estranha inscrição: ATSEB999. Virando ao contrário, a mensagem fica clara: 666BESTA.