“Pânico I”.
"Josué e o Saci"
Josué não tinha medo de nada.
Em sua vila e nas redondezas era conhecido de todos.
Era o tipo xerife, valentão e folgazão.
Realmente nascera privilegiado.
Com seu corpo fora do comum, desde cedo impunha respeito.
Ninguém se dispunha a medir forças com ele, pois seria vergonha, acompanhada de muita dor.
Nisso ele era mestre.
Quando chegava a algum lugar, todos saiam de fininho, ou esperavam as ofensas que viriam com certeza.
Sua mãe era uma beata, totalmente ao contrário dele, uma santa mulher.
Sofria muito com as maldades do filho e orava para que ele retornasse ao bom caminho.
Mas isto seria difícil de acontecer.
Neste dia bebeu um pouco a mais, digo muito mais.
Saiu da vendinha já seriam mais de dez horas da noite.
Montou em sua enorme mula e galopou para longe, dando alívio a todos.
Quando chegou a uma porteira viu um negrinho sentado sobre a maior das tábuas.
-Abre a porteira, negrinho!!
Além de nada fazer, o negrinho deu sonora gargalhada.
-Acho que vou te ensinar no chicote, e tentou dar uma chibatada onde deveria estar o negrinho.
O danado tinha uma perna só, mas mesmo assim saltou e caiu na garupa da mula.
Que pulou como cavalo novo, jogando o cavaleiro no chão.
Quando caia seu chicote foi pego pelo esperto negrinho que agora estava montado e estalava o chicote.
O primeiro golpe cortou seu rosto, da sobrancelha ao queixo.
Outros golpes foram dados e sua face ficou retalhada.
Depois o negrinho já estava de pé sobre a sela continuava batendo.
Quase desmaiando viu agora num clarão o moleque.
Com o gorro vermelho, tarde demais percebeu que havia apanhado do Saci.
Encontraram-no, todo sujo de sangue.
Tinha o rosto e as costas todas marcadas por chicote.
A partir daquele dia o gigante parou de beber, tornou-se um beato de igreja.
Era a antítese do valentão, brincando com crianças e ficando amigo de todos.
Esta história é verídica que foi contada por um amigo de um amigo meu.
Oripê Machado