VERDE-MUSGO

Marcava 01h00min no relógio de números vermelhos e luminosos, eu acho... Pouco guardo na memória e sinto que a cada dia que passa, menos recordo. A única coisa que se repete sem parar como flashes em minha memória é a imagem de um rosário de pedras verdes-musgos pendurado no retrovisor, antes do impacto... acordei aqui, em meio a um pântano e essa vegetação rasteira e úmida. Procurei um meio de sair, procurar ajuda, mas... de alguma forma estranha que não sei descrever, não há como sair. Aqui é sempre noite, frio, úmido, a água é um lodo puro e os musgos crescem até no ar, já perdi a noção do tempo e o espaço se torna cada vez menos significante, só o que me resta é a imagem Dele. A coisa mais impressionante e inexplicável que já vi ou senti em toda minha existência...

Ele estava lá, no início pensei que era uma estátua no meio do lago de águas negras, metade do corpo dentro, e a outra fora do líquido barroso, na luz fraca da noite me aproximei de sua silhueta estranha, usava um chapéu cobrindo o rosto e um sobretudo longo e aparentemente negro, imóvel...

Resolvi chegar mais perto, então ele se moveu, a princípio me assustei, mas a curiosidade foi maior e me aproximei, então... Ele começou a andar em minha direção, uma visão fantasmagórica. Se movia com dificuldade devido ao chão lodoso e eu senti como se pudesse ouvir o som das batidas do meu coração, não pude mexer um músculo do meu corpo e a cada passo Dele meus pensamentos se tornavam mais vazios e menos aquela situação fazia sentido.

Ele se aproximou lentamente, arrastando os pés pela terra pegajosa, sob uma luz quase escassa pude ver o seu rosto quando ficamos frente a frente. Ele tinha uma expressão neutra e seus olhos... seus olhos verdes-musgos... e brilhantes como o rosário, pareciam querer dizer algo. Sua roupa estava coberta de lodo e musgo como se estivesse ali há séculos, como uma estátua esquecida pelo tempo. O verde da lama úmida e envelhecida parecia ser parte Dele, impregnada em seu corpo, suas mãos, suas unhas, seus cabelos que pareciam negros, e como se estivesse sido esculpido em pedra, sua pele rachada e tomada pelos sinais de um abandono de no mínimo décadas... isso se fosse uma estátua...

Um minuto se transformou em horas de um tempo que já era incerto, ficamos ali parados. Foi então que percebi que Ele me pedia ajuda. Tomei forças para falar qualquer coisa quando algo pareceu puxar os seus pés e Ele caiu... caiu com o rosto no chão e cravou suas unhas na terra, tentando se agarrar ao solo com as forças que tinha. Não consegui me mover nem ver o que o puxava, mas essa coisa continuou e o arrastou lentamente para a água negra. Ele não emitiu som algum, mas suas unhas continuaram cravadas com força, quebrando com violência, torcendo os dedos e deixando marcas profundas na terra, até o lago que o engoliu devolvendo apenas bolhas a sua superfície escura. Em mim, as marcas foram mais profundas... ainda posso sentir a dor... é a única coisa que sinto desde aquele momento.

Eliane Verica
Enviado por Eliane Verica em 04/06/2012
Código do texto: T3705097
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