Quando Maria Virou um Demônio (Capitulo v O sacrifício.)

Capitulo v

O sacrifício.

O relógio ainda não tinha dado meio dia quando aproximaram –se da quinta...

Erothides surge no alpendre como um raio de sol, seu sorriso branco ilumina as trevas do dia...

Seu rosto branco e levemente rosado emoldurava-se por lindas madeixas encaracoladas até a altura da cintura, lábios de um vivo vermelho, e olhos azuis e calmos como lago, o contraste de seus cabelos negros com a alva pele era extasiante... Vestia um vestido azul celeste que lhe destacava a cintura fina e bem desenhada, as pequenas mãos em brancas luvas, era a visão de um anjo.

Recebe os dois varões com alegria:

Lord, Acásios! Eu tomei a liberdade de coordenar o andamento dos preparativos do almoço... Confesso-me! Fiquei um tanto entediada, sem minha mucama ou meu piano... Desculpem-me a ousadia.

Acásios sorri iluminadamente...

-Não imaginas a alegria que me proporcionas em sentir-se bem aqui e está casa será toda sua!

-Acásios! Não sejas bobo! Olhe a presença de Lord Marquense!

O rubor toma a face de Erothides e são ouvidas gargalhadas...

-Vamos Acásios, vamos ver os manjares que nos aguardam!

-Não vejo a hora Lord, não vejo a hora!

Erothides da os últimos retoques a tão esperada refeição em quanto os rapazes se preparavam...

-Maricas! Maricas! Onde se escondeu minha negrinha fofa?

-To inu senhorinha! To inu!

-Como está o almoço?

-Uma belezoca senhorinha, tudo di dilicia qui vos mece gosta nois fizemu! Posso manda faze a mesa?

-A mesa já está feita Maricas! (ri Erothides)

-A senhorinha já fez a mesa?

-Não Maricas! (sorri a menina fazendo cócegas na negra carinhosamente). É que não se diz fazer a mesa a mesa já foi feita pelo carpiteiro... É por a mesa! Podem por os quitutes na mesa tá minha fofura!!!

-Huffhh! Quem será esse tal di carpinteiro que fez a mesa antes deu... É só vim pessoa diferente qui tu virá bagunça! Hufff meu São Beneditu viu!!!

O almoço finalmente foi posto a mesa!

Maricas manda que Juju chamasse os senhores!

- Meu Lord, Senhor Acásios, Senhorita! Com licença! O Almoço já está servido e espera as vossas apreciações...

Juju não era somente uma negra bela um deleite aos olhos como diziam os homens, mas era uma negra estudada... Era o chodó da mãe de Acásios que a letrou e educou com uma Dama de compania!

Dona de um português e um corpo belíssimo!

O almoço correu alegre e embalado pelo vinho como pedia o sábado risos povoavam a sala de jantar, e faziam os fatos anteriores sumirem da mente de Acasios... O terror dos negros sendo desviscerados, já ia distante aos pensamentos.

-Erothides! Maricas lhe mostrou toda a casa? (pergunta Acásios)

-Não!

-Ela não lhe mostrou a sala de música (pisca Acásios para o Lord)

-Sala de música (bate palmas alegremente a Dama)

-Mas sinhô num temo s... (Maricas é brutalmente interrompida por Acásios)

-Maricas, Maricas minha flor do café!!! Busque mais vinho!! (diz Acásios com tom ameaçador arrancando risos de todos pela indiscrição da negra)

- Venha comigo Erothides! Lord nos acompanha?

-Sigam a frente logo me encontrarei com vocês...

Acásios se dirige a um antigo quarto de visitas acompanhado por Erothides, e ao abrir a porta...

-Acásios! É linda, como pode existir algo tão lindo! Olhe este piano!!

O espaço onde era um quarto agora era um lindo salão vasto e iluminado onde se contemplava vários instrumentos... Não eram somente as almas que se transformavam... Os ambientes também!

Ao ir ao encontro dos patrões Maricas dá um grito e derruba uma moringa d´água que trazia!

-Virgem em Cruz... Isso é coisa do Demo!

-Calma negra velha e tola... Mandei mudar o ambiente a noite para causar surpresa! Por isto, essa noite mandei-os dormir na casa do feitor e fiz a festa no pátio para que ninguém estraga-se a surpresa... E se vá, vá negra insolente... Antes que eu mande...

A negra corre afobada buscar panos para limpar o pequeno desastre...

- Erothides e Acásios riem gostosamente do encabulo da negra.

-Acasios! A cada dia vossa pessoa me encanta mais, sinto-me ser enfeitiçada por você.

Acásios toca o rosto da tão bela dama suavemente e lhe acaricia a face... Seus rostos se atraem e suavemente os lábios se tocam em um doce e verdadeiro beijo de amor que por alguns instantes devolvem a Acásios sua humanidade.

-Acasios! Acasios! (ouve-se a voz de Lord Marquense a quebra o tupor pós a cena).

-Fale Lord Marqunese! Estamos na sala de música! Venha junte-se a nós, pois me encantaria ouvir Erothides tocar seu novo piano!

Erothides toma a frente no piano e suas mãos pequenas e suaves tornam-se imensas perante sua destreza a frente do teclado, as cores alegres da sinfonia tingem a casa de brilho e alegria. E a tarde da lugar a noite...

Já de noite Acásios encontra-se no seu escritório quando Marquense adentra-o!

-Meu amigo quero ter com você! (fala o Demônio fechando a porta)

-Fale meu amigo!

-Amigo não Acásios! Eu sou seu senhor! Quando estivermos sós ou entre os desta tarde me tratarás de senhor, como qualquer outro escravo meu! (diz deferindo um forte tapa no rosto de Acásios que baixa os olhos fitando o chão submisso).

-Seu senhor entende!

O lábio de Acásios fora ferido com a violência da pancada e sangra. O demônio vendo tal cena aproxima-se de Acásios e o toca a face como que toca uma rosa desliza os dedos levemente no rosto de Acásios, gesto que parece o anestesiar. Sustenta um dos dedos nos lábios de Acásios e o beija, limpando todo o sangue com a boca e a língua... O beijo demoníaco lhe proporciona sensações adversas um misto de ódio e desejo. Afastando-o levemente de seu corpo senta Acásios neste momento inerte em um estofado.

-Escravo preste atenção! Hoje a negra Esmeralda dará a luz a um varão... Retire-o dela e não permita que ele mame... Alimente a esta criança leite de uma cabra com sete gotas de sangue, cortem seu prepúcio e depositem a pele e o sangue em um cálice de ouro, levem ao salão junto de dois punhais um de ouro outro de prata que acharas fincado na figueira... A criança também ficará lá e não a alimente com nada alem de leite de cabra com sete gotas de sangue! Mande nossos servos cuidarem disto o resto é por minha conta!

Está criança será o holocausto para que um dos meus filhos venha e junte-se a nos!

Continua...