Quero ir contigo!

Essa é a primeira vez que vou à casa da minha avó após sua morte. Faz um tempo que ela faleceu. Desde então eu estava na casa de uma amiga, mas continuo me sentindo sozinha. Minha mãe engravidou de um namoradinho que a abandonou assim que soube. Ela colocou o meu nome de Isabel e morreu quando eu tinha treze anos.

Agora a minha vó também se foi, e eu estou completamente sozinha... Queria ter ido com ela... Ela foi injusta ao me deixar.

A tarde estava acabando e assim que entrei já pude sentir o cheiro de poeira. Algumas telhas foram afastadas pelos gatos e a luz passa pelos espaços denunciando a poeira que paira no ar. Tem tanta coisa a ser feita, documentos ainda precisam ser arrumados, tudo estar sujo. E apesar de tudo essa é minha casa. Arrumei tudo, separei todos os documentos, as roupas dela que ainda estavam lá. Depois de acabar tudo percebo que já são 2hs da madrugada eu preciso dormir.

Precisar não é conseguir, e depois de um breve cochilo. Levando ás 3hs com batidas na porta do quarto. Mesmo com a porta fechada pude ver a sombra de um menino de uns cinco anos. Abri rapidamente, e vejo a sombra do menino correndo para cozinha “PARE!” a sombra se mistura com o total escuro do cômodo. Quando ascendo à luz... Vejo diante de me um menininho com um golpe de machado na cabeça e seu corpinho pequeno banhado a sangue... “AHHH!” fecho meus olhos rapidamente e ele já não está mais lá.

Volto pro quarto correndo... “Devo ter enlouquecido estresse pós-traumático ou algo do gênero”... procuro um remédio pra dormir, mas por engano acabo pegando um dipirona e tomo doses cavalares. Sinto meu coração acelerar e em poucos minutos os sintomas da minha alergia ao medicamento aparecem. Meu rosto incha e mal consigo manter a respiração. Vou cambaleando para a cozinha pegar um copo de leite, mas antes de chegar lá caiu no chão da sala de jantar.

Com meus olhos inchados entreabertos vi quatro moças com roupas de época, com uma aparência triste e desolada caminhando na minha direção. Elas estavam conversando, porém não deu pra escutar muita coisa. “Ela vai morrer agora?” perguntou uma em um tom meigo e ingênuo. “Sim ela vai se juntar a nós” quem respondeu tinha lágrimas na voz. E com toda minha força abri o máximo os olhos, e só vi uma mulher. “Aonde foram as outras?”...

Minha respiração sumiu por completo, meu coração pareceu explodir. Levanto minhas mãos pedindo ajuda à linda mulher vestida de preto. Ela se aproxima e se abaixa permitindo que seus longos fios pretos toquem em meu corpo agonizante. Então ela beija minha testa, e como eu poderia não reconhecer aquele beijo. “Amorzinho, não tema e venha comigo minha linda, você é muito descuidada eu sempre lhe disse pra ler os rótulos dos remédios”

Levantei-me, mas continue lá caída, meu corpo já não importava. Minha avó é a mulher mais linda que já conheci... "E agora posso ficar contigo vozinha." Fui apresentada a Miguel e as três Marias que morreram em nossa casa muito antes de virmos pra ela (histórias que depois eu conto). Nunca estive tão feliz e acolhida em minha vida, que ironia, acho que não tenho mais uma vida.

Bela Pessoa
Enviado por Bela Pessoa em 24/05/2012
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