Cemitério abandonado
- Corre! – disse Jackson – é por aqui! – completou enquanto se locomovia velozmente.
- Tá bom! – falou Michel – Estou te acompanhando, quero vê esse lago!
Os dois corriam por entre a mata verde e fechada, uma pequena trilha de terra que não permitia a passagem de duas pessoas lado a lado, mostrava a direção a ambos. Os dois primos passavam o final de semana na casa da avó, uma senhora acolhedora, religiosa e isolada, que além do peso da idade, parecia carregar outro pesar maior, que poucos conheciam.
Ainda crianças, Jackson com 11 e Michel com 10 anos, eram muito rápidos e possuíam o vigor natural de sua idade, uma energia que parece não ter fim. Avançavam rapidamente por entre galhos caídos e pedras, sem tropeçar.
- Tem certeza que é por aqui? – perguntou Michel – Nunca estive aqui antes e nossa avó disse pra gente não vir por esse lado.
- Claro que sei não se preocupe! – disse Jackson esboçando certeza, mas no seu interior começava a ter dúvidas se sabia mesmo para onde estava indo. Sabia que havia um pequeno lago por trás da casa da avó, o havia visto no último mês, mas não conseguia encontrá-lo e lembrava-se que aquele trecho era um tabu para a sua avó, embora não lhe tivesse dito o porquê.
De repente os dois pararam de correr, não acreditavam no que tinham diante dos olhos, à curiosidade somava-se o medo. Pequenas cruzes de madeira, quebradas e tortas proporcionavam uma visão perturbadora. De olhos arregalados, ofegantes, passaram a caminhar lentamente e olhar para baixo e em torno, um espaço considerável onde crescia apenas um capim rasteiro em pontos localizados, o demais era terra árida. Nesse buscar viram algo mais além dos símbolos dos túmulos, havia ossadas semienterradas, e pelo estado, jaziam ali há muito tempo.
- Acho melhor a gente ir embora – disse Michel sentindo um arrepio, havia qualquer coisa maligna naquele lugar – Vamos sair daqui!
- Vamos! - Concordou Jackson de imediato.
Nesse momento uma mão de esqueleto saiu da terra e agarrou o
tornozelo de Jackson.
- O que? – teve tempo de dizer antes de ser tragado violentamente para dentro da terra.
O horror estampado no rosto de Michel foi seguido pelo grito mais estrondoso que seria capaz de emitir, saiu correndo mais rapidamente do que chegou. Mesmo em meio ao desespero conseguiu seguir pelo mesmo caminho, sempre olhando para trás como se alguém estivesse no seu encalço.
Chegou ao grande casarão da avó e entrou pela cozinha, trêmulo, em estado de choque, branco como o leite, ao cruzar a porta caiu no chão, tremendo convulsivamente. Estavam na cozinha a avó, a tia e a mãe.
- Meu filho – disse dona Joana e correu para acudi-lo – o que houve?
- Onde está o Jackson? – quis saber Manuela, irmã de Joana, com o terror se manifestando no rosto.
- Meu filho, o que houve? - disse Joana já aos prantos.
- Esqueleto...uma mão..ele..terra...pegaram... – foi tudo o que pode explicar o pequeno garoto em meio a espaços musculares violentos, suava frio.
As três mulheres se entreolharam, com uma expressão facial repleta de sentimentos contraditórios.
- Eu disse a eles que não fossem para longe, e não brincassem naquela direção – sussurrou a velha senhora com um forte pesar na voz. Todas aparentavam saber que algo muito ruim ligado ao Cemitério Abandonado tinha acontecido.
Sem esperar por mais nada Manuela saiu correndo na direção do cemitério, cuja existência ela conhecia, pois era mais antigo do que o velho casarão da mãe. Na pequena cidade muitos sabiam que deveriam manter distância daquele lugar, no entanto, nenhuma das mães achava que fosse hora de contar aos filhos com detalhes, para não assustá-los.
Manuela chegou ao local segundos antes de sua irmã que deixou o filho aos cuidados da mãe. De olhos arregalados caminharam alguns metros até ver um buraco parcialmente coberto, onde a terra parecia ter sido revolvida segundos antes. Compreenderam o que havia acontecido.
- Nãããããããããooooooo! – gritou Manuela em desespero e lágrimas, levando as mãos ao rosto.
- Vamos sair daqui – disse Joana chorando - não há mais o que ser feito, vamos antes de sermos apanhadas.
Arrastava a irmã com todas as forças que podia, enquanto esta se debatia e chorava, retiravam-se para longe do local que tinha sugado uma criança. Nunca mais veriam o menino, pois no canto oposto do Cemitério Abandonado, jazia uma pequena ossada humana, surgida recentemente, embora aparentasse estar enterrada há décadas.
FIM.