Fantasmas não existem!

- Sabia que existem almas penadas nesta casa vagando e assustando visitantes? – disse a pequena Fabiana com uma voz maliciosa sabendo que assustaria o irmão mais novo deitado na outra cama de solteiro paralela à sua. Era uma menina muito sapeca e brincalhona para os seus 11 anos. Estava sempre aprontando.

- Sua mentirosa! Cala a boca! – rebateu Marquinhos violentamente – Não existe isso de fantasmas! – embora tentasse esboçar certeza estava com muito medo, algo natural para um garoto de nove anos.

Ele, a irmã com quem sempre se desentendia, a mãe e o pai passariam a noite na velha casa da tia-avó antes de seguirem viajem pela manhã. Era um casarão muito antigo, por onde já havia passado muita gente. Pela manhã tinha um aspecto acolhedor, mas à noite ganhava outra dimensão, com sons estranhos e a impressão de olhos espreitando por todas as partes.

- Existem sim! – declarou Fabiana percebendo o medo na voz do irmão mais novo de quem gostava de caçoar – Dizem que essa casa é repleta de fantasmas, um dos empregados me contou durante o dia, alguns gostam de crianças como nós, estamos perdidos – falou quase soltando uma gargalhada ao imaginar o medo do irmão.

O ambiente não estava de todo escuro, era possível perceber o vulto dos móveis no quarto. Ela não o via bem, mas sabia que ele estava tremendo entre os lençóis brancos.

- Eu já disse que fantasmas não existem! – falou o Marquinhos revoltado.

- Existem e vão pegar primeiro você que é um medroso! Se fantasmas não existem por que você é tão medroso?

- Não sou!

- É sim e vai se urinar nas calças quando a alma aparecer para te levar embora!

- Se você não parar eu vou falar pra mãe – disse suficientemente alto para ser ouvido por toda a casa.

Como dormiriam em um cômodo ao lado do quarto onde estavam hospedados o pai e a mãe, e a parede não chegava ao teto, era possível ouvir o que se passava no ambiente vizinho.

- Parem com isso ou vou aí dá umas chineladas nos dois! – gritou a senhora do outro lado – Vão dormir!

- Tá mãe – disseram ao mesmo tempo.

- Seu besta, eu só estava brincando – falou Fabiana – Fantasmas não existem!

- Foi o que eu disse fantasmas não existem!

E viraram as costas um para o outro.

Balançando a cabeça afirmativamente da entrada da porta entreaberta do aposento uma figura branca observava com interesse as duas crianças. Seus grandes olhos pareciam querer pular das orbitas de uma face enrugada e muito branca, com longos cabelos grisalhos descendo até a cintura. Envolta em um vestido branco e amassado. Esboçava um sorriso desdentado e amarelo enquanto se espreitava silenciosamente para o interior do quarto.

FIM.