O Garanhão das Sombras - Culpado

A balbúrdia foi geral, após a sentença. Gritos de agressividade eram dirigidas a minha pessoa.

- matem-no, arranquem a cabeça dele..

-Joguem-no nas sombras, para o calabouço. Torturem-no dia e noite.

O barulho era ensurdecedor, cada vez mais deixando-me aflito. Aquelas pessoas pareciam levadas pela turba louca,desejando despedaçar-me, os que se diziam minhas vítimas eram os mais raivosos. Haveria uma segunda morte? O que me aconteceria?

Guardas me conduziram por um caminho de pedra, a escuridão era intensa. Maus odores se apresentavam ás minhas narinas. Cada vez mais para baixo numa escuridão reinante. Um ambiente de geleira indescritível. Nunca acreditei que existisse o inferno descrito pelos religiosos - eu estava errado - eu estava nele, era o inferno - so que no lugar das chamas havia o frio de geleira terrível somado com uma escuridão de breu quase total.

Escavadas na parede de pedra apresentavam-se várias celas, delas surgiam sons guturais, pedidos de socorro e gemidos diversos.

Fui jogado numa cela. caí ao solo e logo desfaleci.

E, ali naquele local escuro e frio, o Garanhão das Sombras permaneceu por tempo indeterminado, até que teve um despertar lento e sofrível. o seu corpo estava anestesiado pela dor, como se tivessem arrancado a pele por inteiro. Sentia o incômodo do frio pela pele, como se o mesmo pudesse lhe atravessar músculos e ossos.

Não se enxergava um palmo além do nariz. Os gemidos eram incessantes. urros de homens em franco desespero se estendiam pelas galerias sombrias. O Garanhão das Sombras sentou-se, veio-lhe á memória momentos de sua vida no passado. Então, lembrou das muitas mulheres que havia seduzido, enganado. As que tinha explorado em muitos prostíbulos - havia ganhado gosto pelo mercado de prostituíção. Muitas eram por ele espancadas, tratadas de forma cruel, como se fossem animais, seres de menor monta. Algumas foram assassinadas a seu mando. Indagava, estaria no inferno?

Morrer era aquilo?- indagava-se. Estaria num pesadelo?

Ouvia-se ao longe o som de uma tempestade. O som da chuva torrencial. Então, as galerias tornaram-se tomadas pela água, aumentando o sofrimento, o desconforto. Blasfêmias eram proferidas, de toda ordem, do mais baixo nível. Experimentava os dissabores das furnas, das cavernas onde ficam depositados as escórias das almas, o lixo de Deus.

Figuras de aspecto bizarro invadiam a sua cela, deixando-o espantado. Tinham o aspecto dos demônios descritos pela literatura ou pelos fimes de terror. Num relance surgiam, e desapareciam. davam gargalhadas sinistras, apavorando-o, alguns proferiam frases de deboche, ou de acusações.

- Socorro, tirem-me daqui, socorrooo...

E, assim ficava aos berros, até que suas forças se exauriam. Então, caia desfalecido, sem forças físicas que o sustentassem. Boiava na água fétida, chocando-se contra as paredes de pedra. Ficar louco, seria, talvez a melhor das alternativas, morrer para sempre, deixar de existir, e não ter descoberto que era uma consciência viva - que sofria além do túmulo o retorno das más ações praticadas quando estava na carne.

- Eu quero sair daqui, tirem-me desta cela, quero sair, piedade, por favor, piedade. Tirem-me daqui....

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 20/05/2012
Reeditado em 10/11/2012
Código do texto: T3678339
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