O Retrato
Há alguns meses já passados
Um parente familiar desapareceu
De acordo com fatos relatados
Perto de uma casa ele se perdeu
Durante toda a investigação,
A polícia não encontrou indício
Tudo não passou de presunção
Da sua morte nenhum vestígio
Comecei aos poucos investigar
Tentando juntar alguma pista
Com os grupos comecei a falar
E por meu plano senão a vista
Algumas pessoas e moradores
Afirmaram tê-lo visto distante
Próximo da colina nos arredores
Numa casa velha pouco adiante
No sopé eu avistei a moradia
Que ficava ao meio da clareira
Era um castelo como abadia
Daqui percebi a grande soleira
Caminhei procurando um traço
Sempre fitando acima o mirante
Não vi sequer da roupa pedaço
Que me faria estar tão confiante
Poucas horas me vi no castelo
Parado junto à porta de madeira
De muro alto e assim muito belo
Junto às cascatas da cachoeira
Bati a porta com certo vigor,
Na maçaneta dura e maciça,
Venho me atender um senhor
Que despertou a minha cobiça
Mesmo com idade avançada
Seus modos eram fora do trivial
Tinha a pele macia e dourada
Com sorriso simpático e jovial
Apresentou-se com ligeireza
E convidou para entrar,
Diante da sua tácita esperteza
Pedira ao criado o jantar
Pedindo com um sotaque inglês
Para pernoitar, pois era tarde,
Seu ar altivo de mercador burguês
Convenceu-me sem mais alarde
Disse-me na voz singela
- Descanse que já repousa o frio,
Por entre a montanha bela
Amanhã procuraremos seu tio
Após uma jornada andando,
Ouvi o conselho deste senhor
Durante o sono ouço gritando
Uma voz horripilante de horror
Desci a escada esbaforido
E a voz aos pouco se míngua
Como o defunto falecido
Que na morte dobra a língua
Percebi nas paredes os quadros
Antigos pareciam recentes
Percorriam todos os esquadros
Com imagens de tantas gentes
Um suor frio banhou a face minha
Quando da foto uma voz
Gelou-me no terror toda espinha
Chamando-me assim veloz
Que loucura meu Deus esse fato
Que amortalhou de palidez o brio,
Preso à imagem do recente retrato
Estava lá sussurrando meu tio!