A Pedra
A cena patética da empregada limpando os móveis da sala, de certa forma chamara a atenção do garoto de rua, aquele elemento que não queria saber de escola, mas apenas de promover arruaças na rua em que morava.
A visão certeira de um alvo fácil, o quadro de Nossa Senhora da Escada, fixado naquele corredor.
Posicionado defronte à janela e escondido, lançou mão do estilingue, colocando-lhe uma pedra que, tamanho cuidado em escolhê-la parecia ser uma esmeralda preciosa.
Posicionado, fortemente armado e engatilhado. Mira estabelecida. Uma pedrada apenas destroçaria a obra de arte, espatifando-lhe em infinitos cacos o piso recém-limpo da sala de estar, além de perfurar a pintura e, tamanho impacto lançá-la ao chão sem qualquer chance de salvar.
E a pedra foi lançada. Sua velocidade podia ser comparada a de um revólver, calibre 38. Instantes antes do almejado alvo atingir, a despreocupada empregada se levanta, fazendo-se, ainda que não por intenção, um escudo humano.
O pequeno calhau atingiu-lhe a região da testa, perfurando-a e alojando-se em seu cérebro. Como resultado, morte instantânea.
Percebendo tal feito além de seus maléficos planos, o pequeno vagabundo sai em disparada, escondendo-se em cima de uma árvore, por onde poderia observar todo o movimento sem sequer ser notado.
Horas mais tarde a polícia chegou e instaurou investigação, dentro da cena do crime.
A paupérrima secretária do lar, mãe solteira de três fora enterrada como indigente, devido à penúria em que vivia.
Os três órfãos passaram a ser pajeados por uma instituição, que cuida de crianças sem pais. Na verdade, apenas dois foram para o internato. O terceiro permanece em sua sina, a observar os movimentos de cima da árvore do bosque, em sua tereia diária, a vagabundar pelas ruas, e a levar em si para todo sempre o peso da culpa de uma travessura mal sucedida, que levara consigo seu bem mais precioso. Seu futuro regozija-se na incerteza.