LIBERDADE
-Mãe, que barulho é esse?
-Não se preocupe filho. Ficará tudo bem.
-Mãe, tá quente aqui.
-Calma filho, tudo vai ficar bem.
-Estou com medo...
-Não se preocupe. Feche os olhos e pense em um lugar bom.
-Mãe, o fogo está chegando perto.
-Eu te amo filho.
-Eu não quero morrer mãe...
-Você não vai.
Amanda protegeu Léo como pode. As telhas caindo sobre suas costas lhe quebraram as costelas.
-Filho, eu te a...
Não teve tempo de dizer. De repente, tudo ficou claro demais. Um jato d’água atingiu seu rosto, e por um momento eles não enxergaram nada.
Horas depois, o fogo da velha casa tinha sido apagado. Não encontraram corpos, apenas móveis e paredes queimadas. Do lado do caminhão de bombeiros, Amanda e Leo observavam o que restou da casa.
-O segundo incêndio em dois anos– dizia um oficial.
-Sim, mas este acabou com a casa. O primeiro foi pior, matou a mãe e o filho. Uma brincadeira no fogão e olha o que acontece. Agora, com a casa vazia... não sei como pegou fogo desta vez.
Subitamente, Amanda e o filho se lembraram. O fogão, o gás, os gritos da mãe e a explosão. Os dois ali, embaixo dos escombros, e então, como num passe de mágica, todo aquele momento acabando ali. Agora entenderam. Eles não faziam mais parte daquele mundo. Amanda pegou na mão de Leo e disse pela última vez:
-Feche os olhos filho. Pense em um lugar bom.
Sentiram sua alma subir lentamente. Estavam livres.