A VIDA EM DIREÇÃO À MORTE
Ele não entendia como a sua vida se tornou tão dura. Tudo caminhava tão bem, Mário estava em um emprego que até aqueles dias parecia estável, a sua amada esposa, Clara, com quem havia uma amável troca de amor e carinho, estava grávida. Ele esperava com alegre ansiedade pelo filho, que seria o símbolo da sua felicidade.
Mas um dia, em seu trabalho, Mário é chamado à sala de recursos humanos e lhe é dada a inesperada notícia. Um funcionário daquele departamento lhe fala:
-- A empresa está fazendo alguns cortes, pois devido à crise que tem afetado a sede na Europa, recebemos a ordem de diminuir a produção por um tempo e fazer alguns cortes. E você Mário, infelizmente cabe a mim dá a você a triste notícia de que seus trabalhos, por enquanto, não são mais necessários.
Com a perda do emprego vários pensamentos invadem a mente do pobre homem, deixando-o sem rumo. Dias depois a sua esposa começa a sentir várias dores pelo corpo, ela é levada às pressas para o hospital. Mais um forte golpe estava sendo preparado contra aquele homem, que semanas atrás era um homem feliz. O médico se aproxima de Mário que esperava desolado no corredor do hospital. Ele olha assustado para o homem de jaleco branco que para a sua frente. E com um grande drama na voz lhe fala:
-- Senhor Mário, nós tentamos tudo o que podíamos. Mário se levanta assustado, seu coração parecia querer fugir do seu corpo, ele se encontrava com o rosto carregado e com os olhos pesados por amargas lágrimas. O médico continua a falar:
-- Mas a sua esposa perdeu o filho que havia em seu ventre.
Mário não se aguenta e cai de joelhos envolto em lágrimas e soluços. Após alguns minutos ele se levanta e senta em uma das cadeiras do corredor do hospital.
As semanas se passam e Mário não consegue emprego, depois de algum tempo ele prefere passar os dias trancado em seu quarto. Clara não consegue mais olhar para o marido, ela se sentia culpada pela depressão que consumia aquele homem.
Mário estava solitário dentro de sua própria casa, o ambiente mórbido que o envolvia o fez sentir uma estranha atração pela morte. O casal então se fecha, não havendo mais troca de carinho e amor, e falam somente o necessário comunicando apenas através de monossílabos. O clima se torna insuportável para Clara, que pede a separação e retorna para a casa dos pais. Mário não se agüenta e pensa que se ela ficasse ao seu lado, talvez ele conseguisse se reerguer. Mas ele não culpava Clara, ele se sentia responsável por toda a sua tristeza e também pela tristeza da esposa.
Após alguns dias, sozinho em sua casa, perturbado pela solidão mórbida que o envolvia, Mário liga para a sua esposa, a mãe da ausente mulher lhe informa que a filha havia ido viajar. Mário se tranca em definitivo no quarto da sua solidão, ele sentia raiva de tudo, sentia ódio do mundo que lhe havia desamparado. Mas sentia uma tênue leveza ao lembrar-se da esposa.
Dias depois, Clara convencida de que poderia superar as barreiras ao lado do marido, retorna para casa. Ao adentrar dentro do quarto ela se depara com uma cena horrível. Encontra Mário caído em uma poça de sangue, em uma das mãos ainda se encontrava a arma usada para dá cabo daquele sofrimento e na outra mão havia o retrato do casal, que se encontrava sorridente e feliz, uma vida de outrora, agora transformada em trevas e em morte.
Clara se desespera, ela sente uma forte dor no peito e em lágrimas cai de joelhos próximo ao corpo do marido. A moça tenta se recompor, se levanta, sai do quarto e caminha pelo corredor em direção à saída da casa. Mas ao chegar à porta da sala, a pobre mulher se depara com uma figura estranha e horrenda. Parada a sua frente e com um olhar negro e assustador, Clara observa aquela mulher de vestido negro, as suas vestes estavam rasgadas e salpicadas, a criatura lhe estende a mão e com um sorriso macabro no rosto lhe diz:
-- Venha Clara, vou te levar para junto do seu marido.
Achando estranho tudo aquilo que se desenrolava a sua volta, a desesperada mulher tenta fugir, voltando ao quarto onde estava o corpo de Mário e ao adentrar em uma corrida desesperada no quarto, ela se depara com a Ceifeira que lhe desfere o golpe certeiro recolhendo a sua alma.
No dia seguinte, na casa e em meio a todo o movimento de policiais e de peritos que analisavam aquela cena de terror, alguém entre os curiosos vizinhos que observava tudo faz o triste comentário:
-- A vida desse pobre casal terminou no dia em que eles perderam o filho.