Alzheimer, O Monstro Silencioso
O MONSTRO SILENCIOSO
Jorge Linhaça
Ele chega sorrateiramente, silencioso e imperceptível, sem aviso vai devorando você por dentro, retirando pedaços de sua vida sem que você nada possa fazer.
O “Alemão” é assim, alimenta-se de suas lembranças e sua fome é insaciável, aos poucos vai dissolvendo a sua história, apagando aqueles momentos guardados com carinho desde os primórdios de sua vida, como um vírus vai deletando trechos dos arquivos e programas do seu disco rígido. Nada escapa de sua voracidade.
Os arquivos corrompidos vão se multiplicando de maneira tal que em determinado momento já não é possível montar o quebra cabeças de imagens soltas e desconexas, os nomes somem, as datas desaparecem, os sentimentos se perdem no labirinto sem saída.
O monstro sadicamente mantem seu corpo vivo enquanto devora sua alma, negando-te a capacidade de lembrar, de sentir, de compartilhar os acontecimentos vividos ao longo de sua existência.
O monstro é real, não conhece fronteiras, não conhece classe social, espalha-se democraticamente por todos os lados, povos, raças, religiões.
O monstro não afeta apenas aqueles que caem em suas garras maléficas, mas causa estragos na vida dos que os cercam, familiares e amigos se veem apagados das lembranças do ser querido sem que nada possam fazer para modificar o quadro inevitável.
Ainda não foi encontrada uma maneira de combatê-lo, não há arma secreta ou mística que destrua o monstro.
Crucifixos, água benta, balas de prata, estacas de madeira, sortilégios, benzeduras, nada pode detê-lo.
A sua origem é na verdade desconhecida, talvez se perca no tempo com outros nomes ou nunca tenha sido nomeado antes.
Hoje, no entanto, seu nome nos faz tremer ao imaginar que possamos estar entre as suas futuras vítimas.
Hoje o conhecemos apenas por Alzheimer.