Presságio

Já passava das onze da noite quando eu e minha namorada Letícia seguíamos viagem para a cidade de Caetité, no Estado da Bahia. Iríamos para a casa de uma tia passar o final de semana.

A estrada escura e sinuosa causava arrepios em Letícia, a qual pedia para que voltássemos para casa e seguíssemos viagem na manhã seguinte. O mês de janeiro estava marcado por intensas tempestades noturnas, e naquela fatídica sexta-feira não era diferente.

Os faróis do carro refletiam no asfalto molhado e escuro, o qual refratava a luz, deixando tudo ainda mais perigoso.

Em minha teimosia de sempre resolvi seguir viagem, e para irritá-la ainda mais, aumentei a velocidade.

De repente Letícia gritou para que eu parasse o carro, pois estava vendo ao longe uma mulher acenando para parar. Resolvi ignorar, mas quando ficamos mais próximos ela gritou que aquela era sua prima Solange, sinalizando para que parássemos de seguir viagem. Derrapando sobre o asfalto molhado consegui parar o carro, sob os gritos e protestos de Letícia. O detalhe é que Solange havia falecido há cinco anos.

Letícia chorava o tempo inteiro, dizendo que sua prima não queria que seguíssemos, e que deveríamos ouvi-la.

- “Os espíritos sabem do que estão falando. Eu sonhei com ela noite passada, dizendo a mesma coisa”, protestou Letícia.

No ápice da arrogância, ignorei minha namorada e segui viagem. Uns cinco quilômetros à frente, em uma curva perigosa, um animal cruzou a pista. Parecia ser um boi ou um cavalo. Tentei frear, mas o carro rodou e caímos em um imenso barranco. O carro capotou muitas vezes até parar.

Muito ferido e sangrando, tentei me desvencilhar das ferragens, momento este que olhei para o banco do passageiro e vi Letícia, já morta. Meio tonto olhei para a janela do carro e vi Solange em pé, com um olhar triste, apontando para Letícia.

De repente, minha namorada acordou e saiu do carro, atravessando as ferragens como se fosse uma corrente de ar. Tocou as mãos de Solange e ambas desapareceram. Nesse momento eu apaguei.

Dois meses depois despertei de um coma profundo. Os lapsos de memória eram muito confusos, até que meus parentes me relataram os fatos, dizendo que Letícia havia morrido no acidente. Até hoje me lembro com pesar desse fato, não por ter simplesmente ignorado o espírito de Solange, o qual não podia ver, mas ter desconsiderado Letícia, minha namorada, da qual me lembro todos os dias da minha vida.

Paulo Farias
Enviado por Paulo Farias em 12/05/2012
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