O enterro da branquinha...
O homem toma uma atitude radical. Cansado de ouvir a sua mulher brigar pela sua branquinha resolve enterrá-la. Contudo, não a quer longe do peito... A noite sua esposa dorme, e, ele, levanta, pé ante pé, pega a sua branquinha com carinho, a beija na boca, sussurra palavras de amor e a enterra no quintal...
Bilu, o vira-lata da casa, o segue até o quintal, e acompanha o enterro, com as orelhas em pé.
A última pá de terra o faz chorar. Vai sentir saudades!
Noite de lua plena! Uma sombra se esgueira pelo muro do quintal, cavouca a terra com as mãos, barulho, quase imperceptível ao ouvido humano, menos para o Bilu, com o seu focinho cheio de terra, pára...! e, olha para a branquinha desenterrada na mão do seu dono. Outro beijo estalado se faz ouvir. O homem lambe os beiços e Bilu choraminga. Muitos beijos se sucedem até que, a branquinha volta para o interior da terra.
Vez ou outra, sempre à noite, o movimento de desenterrar e enterrar a branquinha acontecia.
Um uivar triste assusta a vizinhança! Um roçar de unhas risca a noite e visita os quartos dos humanos envoltos em mistérios aterradores.
Cinco luas cheias, depois, um odor fétido exala do quintal. A mulher, pergunta para o marido:
“Rubião sente que fedor! Isto está ficando cada dia mais forte! Todos esses dias que, você ficou internado na casa de repouso o Bilu não saiu do quintal!”
O homem sentia o cheiro, ali, deitado na sua cama! Uma caatinga insuportável, mas, devido aos remédios tomados por ele na casa de repouso não conseguia conectar as coisas! Não comandava as suas pernas! O sono num atrevimento aviltante não o abandonava!
“Rubião, acorda o Bilu foi seqüestrado! Ele desapareceu!”
Os olhos morteiros não permaneciam abertos. Ele nada podia fazer!
“Um serelepe! Nossa! Rubião você está demais. Parece um serelepe!”
“Já estou bem! Posso voltar às atividades!”
“Ai, Rubião, prometa que você vai ficar longe dela! Não aguento mais esta maldita fazendo parte da sua vida... Não aguento mais! Se ela voltar eu largo de você”
“Mulher ela esta morta, acredite, eu a enterrei!”
“Vou procurar o Bilu pelas vizinhanças.”
Noite de lua plena! Uma sombra se esgueira pelo muro do quintal, cavouca a terra com as mãos, barulho, quase imperceptível ao ouvido humano, um grito apavorante, se ouve. Tremor de dentes! Palavras inteligíveis! Mas..., o que ele havia feito?! Como podia ter acontecido aquilo? Ali, estava ela, a sua branquinha enterrada na garganta do Bilu! Ele tinha certeza que estava fora da sua consciência naquela noite! Bêbado?! Um pouco! Diante daquela cena, ele prometeu que nunca mais ia enterrar o seu garrafão de pinga, a sua querida branquinha, junto com seu cachorro!