O Coveiro
Eis que lhe faço uma confissão
Da mente que se perdeu sã,
Que leva ao interior do coração
A imagem macabra de Satã
Perdoe-me se a eloqüência,
Oculta por detrás os desesperos
A aprisionar-me na demência
E devorando-me até estes cabelos
Debalde casei-me com a mulher
Que levara uma vida brejeira,
Senti por um instante qualquer
Apaixonar-me por esta faceira
Após longo tempo de namoro,
Da qual me fiz um homem santo,
Amando-a em divino decoro,
Fez ela do meu amor um pranto
Era uma promíscua por dizer,
Vivia ébria tanto a noite qual dia,
Custava-me fazê-la entender
Que sua infâmia era cruel vilania
Cansado de ser tanto ofendido
Planejei por fim senão matá-la
Tendo o meu orgulho tão traído
Seu cadáver eu iria ocultá-la
Ria para mim mesmo dizendo
O doce cemitério lhe aguarda
O ódio em mim ia-se crescendo
Como a nódoa em uma farda
Quando ela adormeceu ao leito
Dei-a um golpe de machado,
O arfar ofegante morrera no seio
Junto ao corpo desmembrado
Lavei o sangue que ainda escorria,
Por dentre o lençol ainda quente,
Só a lua era fora testemunha e via
A loucura insana de um demente
Enterrei-a próxima de meu jardim
Onde nasceu um enorme gerânio
Do perfume dela lembro assim,
Pois de meu amor guardei o crânio