O Lunático (republicação)

Fernando amarrou o sapato, apagou o cigarro que fumava e vestiu o velho alforje de caçador do seu avô. Pegou a espingarda cartucheira e saiu apressado.

***

Dona Maria das Graças desceu no terminal rodoviário, com sua bíblia debaixo do braço. Estava vestida com uma grande saia verde e uma blusa xadrez, era seu uniforme básico. Dona Maria abriu à bíblia e começou a pregar:

- Meus irmãos, Jesus está voltando. Preparai-vos para o retorno do mestre.

As pessoas passavam por ela, mas, apenas, queriam seguir viagem, não davam atenção para o que ela falava.

- E, no dia do juízo. Os mortos, sim, os mortos voltarão à vida. E, todos serão julgados pelo criador, pois, Deus de nada esquece.

Um homem estava sentado em um banco próximo e comentou com o amigo ao seu lado:

- Mais uma crente filha da puta. Eu detesto esses pregadores de rua, eles, sim, é que vão pretos para o inferno.

- Verdade! A bíblia diz que devemos orar em nossos quartos. Não em praça pública. – comentou o outro.

- É, pois, eu quero é que você diga.

A mulher continuava pregando:

- E, o senhor Jesus, aleluia! Irá levar as boas almas...

***

Fernando ajeitou a espingarda nas mãos, passou a mão pelo cano e pensou o porquê de ele fazer aquilo?

- Por que, meu deus, por quê?

Não entendia como aquilo funcionava, mas tinha que fazer o que lhe era destinado.

Caminhando, calmamente, ele armou a espingarda. Era interessante como nenhuma pessoa se assustava com um homem armado. Ele escutou as palavras de uma senhora.

- No fim dos tempos, o homem sofrerá. Os mortos caminharão como os vivos. – ela pregava.

Fernando, sem pestanejar, apontou a espingarda para o peito da mulher e deu dois tiros que ecoaram por todo o terminal.

Algumas pessoas começaram a correr e outras a chorar. Dois homens que conversavam em um banco próximo, correram para tentar desarmar o lunático que disparava.

O corpo da mulher caiu sem vida com um forte baque no chão. Logo, uma pequena poça de sangue formou-se. Uma moça gritou:

- Meu Deus, ela está morta.

Os homens tomaram a arma de Fernando e o derrubaram no chão. Um policial apareceu e algemou o assassino. Algumas pessoas gritavam:

- Meu Deus, meu Deus.

A poça de sangue aumentava a cada segundo. A bíblia da mulher ficou completamente ensopada e as paginas tomaram um tom carmim. Uma pequena multidão se alvoroçou ao redor da cena fúnebre. De repente, alguém gritou:

- Ela se mexeu.

- Ela está morta, seu idiota. – respondeu um amigo da pessoa que gritou.

O cadáver sem vida de dona Maria começou a tremer e a golfar uma substancia verde amarelada. Em um instante de paz, ela parou e um segundo depois, os olhos do cadáver abriram-se e estavam avermelhados, então, ela soltou um urro e pôs-se de pé. A defunta deu um salto e caiu, novamente, mas dessa vez estava com os dentes cravados no pescoço do policial que algemara Fernando.

- É o começo do apocalipse. – gritou um dos homens que tinha agarrado Fernando - Salvem-se quem puder.

E, a multidão saiu correndo, todos assombrados, com o acontecimento. Alguns, foram pisoteados, outros ficaram inconscientes, uma mulher teve o seu crânio amassado.

Fernando olhou para a mulher que ele acabara de assassinar. Ela levantou-se, depois de comer o pescoço do policial. Finalmente, ele entendera a sua missão. E, em uma gargalhada ensandecida, ele esperou pela mulher que avançava com a boca cheia de uma espuma vermelha.

João Murillo
Enviado por João Murillo em 07/05/2012
Código do texto: T3654710
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