Abuso mortal

Quando a encontrei, estava mastigando o coraçãozinho do recém-nascido. Do queixo escorria saliva misturada a sangue.Agachada como um animal a menina parecia em transe.Aos seus pés jaziam algumas partes da criança esquartejada. Em todos os meus anos como policial, nunca tinha me deparado com cena tão terrível. Era preciso matar aquele ser assassino. Os outros policiais estavam há uma boa distância e não saberiam oque realmente acontecera ali. Engatilhei o revolver e mirei na cabeça da aberração, mas naquele momento fui seduzido pela pureza de dois olhos azuis. Ali ao alcance de uma bala estava um anjo louro, sorrindo para mim de forma inocente.

Eram seis horas da manhã, quando o casal chegou à delegacia dando queixa do sumiço de seus dois filhos. Uma menina de doze anos e um bebê de poucos dias de vida. A mãe contou que ao acordar foi pegar a criança no berço para amamenta-la e não a encontrou. Acreditando que a filha mais velha pudesse estar com o bebezinho, foi até seu quarto. Não encontrando os filhos, acordou o marido e juntos procuraram pelas redondezas. Não logrando êxito recorreram á policia. Os guardas e eu nos espalhamos na busca. Quando começava a perder a esperança, um ruído de mastigação me levou até a cena que ainda há pouco descrevi.

A família Santos se mudou para Perolina há pouco tempo. O homem veio transferido para trabalhar nos correios, e a esposa ficava em casa cuidando dos filhos. A menina mais velha era de uma beleza incomum. Eu os via muito pouco, pois não frequentavam a missa e eram de pouco falar. A casa onde moravam, estava sempre com as portas e janelas fechadas e nenhum som vinha lá de dentro.Raramente a mulher saia e quando o fazia não falava e nem olhava para ninguém.Parecia sempre apressada e olhava para as pessoas com ar amedrontado.O marido era grandalhão e tinha um ar tímido,se cumprimentado não levantava a cabeça para responder ao cumprimento.Entregava as cartas de forma rápida e sem conversa.

Voltando ao momento em que me deparei com a criança devorando a outra, devo acrescentar que nem por um momento senti medo, somente repulsa. Hipnotizado por aqueles olhos, perdi a noção do tempo e só voltei a mim quando um grito quebrou o silêncio. Os pais e os outros policiais tinham nos encontrado. A mãe ao ver a arma sendo apontada para a filha gritou e arrancou de minhas mãos o revolver. Pensei que ela própria iria atirar na menina, mas ela girou o corpo e atirou na cabeça do marido. O sujeito tombou com metade do crânio arrebentado. A mulher então contou que a culpa de tudo era do esposo, pois esse era o segundo bebê que a garota matava, transtornada pelo parto depois de engravidar do próprio pai. 06/05/12

(Para você Zeni)