A morte
Vagando por uma noite solitária,
Vejo ao longe algo me seguindo
Uma sombra negra e mortuária
Em passos lentos vem surgindo
Emergido nas trevas do negrume
As roupas envoltas na mortalha,
O vento pestilento em perfume
Acossa-me diante da muralha
Palpitando o coração na angina,
Meu rosto em suor se banhava
O vulto negro cortava a neblina
E meu corpo no horror gelava
Um calafrio subiu-me a espinha
A respiração se tornou ofegante
Quem é a sombra que caminha
No vento frio e tão congelante?
Fitando-me em satânico olhar
A assustar esta alma benévola,
Tentando ao espírito rebentar
Com negra presença malévola
Os pés fracos em cada passo
Apressaram-se no meu andar
Eu fugia como se foge ao laço
Da forca próxima pra enforcar
Saindo das sombras escuras,
Vi a visão que me emudecia,
Tinha no olhar trevas impuras
Rindo daquilo que eu não cria
Correndo com os pés na areia
Sentindo ricochetear o coice
Pela névoa voltou-se a caveira
Nas mãos possuía uma foice
Os olhos ardiam transfigurados
Pressenti o bafejo de toda sorte
Os sinistros lábios desfigurados
Disse-me:- Sou eu a tua morte!