Enterrado Vivo
Ao despertar senti-me estranho
Tudo diferente em meu redor,
O perfume de terra e estanho
Pressentindo já assim o pior
Abrindo os olhos eu nada vejo,
Senão o negrume da escuridão
Diante de mim assim sobrevejo
Um cubículo frio na solidão
Distante podia ouvir as vozes,
Lamúrias e tristes lamentos,
Pessoas inocentes os algozes
Do terror de meus tormentos
Estou dormindo isto é fato,
Daqui a poucas horas acordo,
Mas com a destreza do tato
De nada anterior me recordo
Bato ao fundo do recinto
Com a mão o som é mudo
O pânico ao espírito sinto
Um ruidoso arfar agudo!
Onde agora estou que o grito
Da minha voz não se escuta
Que estranho e tão esquisito
Como beber do cálice a cicuta
E porque estou tão coberto
Rodeado de inúmeras flores
A mente enfim está desperto
Misturado a tantos odores!
Não pode ser o que penso,
O que ocorreu a mim,
Respirando tenso eu repenso,
Será este o meu fim?
Por isso ouvia o barulho oco
De algo metálico a bater,
Estou são, mas pareço louco,
Esta é a forma de morrer?
Debatendo contra a madeira,
Dentro do caixão eu senão rio,
No peito apenas a chiadeira
De uma noite vindoura no frio!
Não posso crer e nem dizer,
Meu destino foi condenado,
No horror então irei morrer
À cova inda vivo sepultado