A noiva zumbi

Ajoelhado enfrente ao túmulo recém-coberto, o rapaz chorava desesperado. Perder a mulher amada foi um forte golpe. Namoraram três anos e agora que os preparativos para o casamento estavam a pleno vapor, uma forte pneumonia a levara. Todos os sonhos de uma vida feliz á dois estavam enterrados com a noiva. A pequena multidão que comparecera ao enterro, havia partido e o deixado sozinho com sua dor. De repente uma sombra encobriu o sol e surpreso o jovem percebeu que tinha companhia. O recém-chegado, homem pálido, alto e muito magro, estendeu-lhe a mão respeitosamente. Por impulso o moço respondeu ao cumprimento e ficou boquiaberto quando o estranho o chamou pelo nome e disse que precisavam conversar. No primeiro momento Renato pensou em sair dali e ignorar o outro, mas a curiosidade falou mais alto e ele o acompanhou até á um carro estacionado pouco adiante. Anselmo primeiramente ofereceu os pêsames e em seguida falou que conhecia a tristeza de perder alguém amado, pois sua esposa falecera há poucos meses. Falou então que havia um jeito de fazer com que os mortos retornassem a vida. Atônito Renato pensou que o sujeito era louco e começou a sair do carro, mas Anselmo era persuasivo e conseguiu despertar o interesse do rapaz. Quando somos jovens e estamos sofrendo é fácil nos guiarmos pela fantasia e deixar que nos levem por caminhos desconhecidos. Renato ouviu com muita atenção oque o homem dizia e combinaram que no meio daquela noite, retirariam da sepultura o corpo da falecida. Nada mais importava o jovem só queria ter de volta o grande amor da sua vida. O suor ensopava suas roupas, seu corpo tremia por causa do esforço. Desenterraram e agora Renato carregava a defunta cujo peso aumentara por causa da rigidez da morte. Em algum lugar da sua mente, algo o alertava, mas a esperança o tornava surdo a esse apelo. A falecida foi levada para sua casa, e Anselmo pediu que o rapaz saísse do quarto enquanto ele conduzia o ritual da ressuscitação. Longos minutos se passaram e quando o jovem incomodado com a demora pensou em invadir o aposento, a porta se abriu e Anselmo mandou que ele entrasse para falar com a noiva. Sentada em uma cadeira, o semblante de Cristina era tranquilo. Seus olhos grandes olhavam na direção do noivo, mas parecia não vê-lo. Um arrepio forte atingiu o rapaz quando a moça mostrou os dentes em um arremedo de sorriso e começou a guinchar de forma terrível. De repente Anselmo entrou no quarto e retirando de um saco um pedaço de carne crua, ofereceu a garota. Horrorizado, Renato assistiu Cristina devorar a carne em poucos segundos e foi informado por Anselmo, de que aquilo era o pedaço de um ser humano e que o preço que ele teria que pagar para manter a noiva ao seu lado, era conseguir carne humana com frequência para alimentá-la. E agora? Perguntou o moço. O preço a ser pago era muito alto. Anselmo deixou claro que fizera sua parte. Estava indo embora, pois precisava alimentar sua esposa zumbi, que estava a sua espera. Apesar do pavor que o dominava, Renato ajudou a noiva se deitar e em seguida trancou a porta por fora. Precisava pensar no que fazer. Sempre fora um rapaz temente a Deus e estava arrependido por ter se deixado levar pela dor e concordado em fazer algo tão sinistro. Tomou então uma decisão: Não mataria ninguém para servir de alimento. Passou então a desenterrar corpos e cortava pedaços que levava para matar a fome da noiva. O roubo dos cadáveres logo foi descoberto e para evitar ser pego pela polícia, Renato passou uma semana sem alimentar Cristina. Uma noite estranhando o silêncio, o rapaz abriu a porta do quarto e ao se aproximar da cama onde estava deitada sua noiva, foi morto e devorado por ela. O zumbi deixou então á residência e desse dia em diante, muitas pessoas apareceram assassinadas, e parte dos seus corpos nunca foram encontrados.01-05-2012 (para Duda,que tem acompanhado meus escritos e me incentivado com seus comentários.)