Paixão Eterna
A tristeza pela morte do noivo nunca se apagara da mente de Nice. Aos vinte e quatro anos, ela e seu noivo Pierre estavam montando o apartamento com todo cuidado e carinho, para que tudo ficasse perfeito.
A festa do casamento seria em uma chácara do interior. Mais de cem convites já haviam sido distribuídos quando a fatalidade aconteceu.
Os dois viajavam por uma rodovia muito perigosa à noite. Apreensiva, Nice parecia estar prevendo o pior, até que ele aconteceu. Um caminhão, vindo em sentido contrário fez uma ultrapassagem proibida batendo de frente no carro do casal, causando a morte instantânea de Pierre. Nice sobrevivera apenas com ferimentos leves.
Tal artimanha do destino deixara a moça em depressão profunda. Perdeu peso, afastou-se do trabalho e da faculdade e ainda tomava medicamentos controlados.
Entretanto, um ritual era repetido todas as noites. Antes de ir pra cama, levava consigo uma pequena urna de cerâmica, contendo as cinzas do noivo e a colocava ao seu lado na cama. Esta era a única forma encontrada para dormir. Ao lado de sua cabeceira, uma foto de Pierre sorridente, muito vivo.
Após seis meses, Nice foi aos poucos retomando a sua vida, mas o ritual era sempre repetido fielmente. Para ela, era como se seu noivo estivesse dormindo ao seu lado.
Entretanto, nos últimos dias surgiu uma mancha na fotografia, exatamente sobre o sorriso de Pierre. Era algo muito estranho, parecendo que um produto químico havia sido derramado, e atingido exatamente essa região da foto. Nice observava com estranheza aquele efeito estranho sem entender direito, mas em seu coração, aquilo parecia ser um aviso, algo que Pierre tentasse lhe dizer.
Em uma manha qualquer, a moça ouviu o despertador e saltou desesperada da cama. Nesse movimento brusco, a urna com as cinzas de Pierre caiu no chão, com tamanha força que quebrou-se, espalhando as cinzas do rapaz pelo quarto. Nice ficou desesperada, chorando copiosamente, tentando juntar as cinzas do noivo.
Uma amiga da família a orientou para jogar tais cinzas no cemitério, em um jardim ou em algum rio. Mesmo contrariada, Nice o fez isso a deixou mal novamente.
Na primeira noite após o ocorrido, ela já previa como haveria de ser não ter mais "seu noivo" ao seu lado na cama. Para sua surpresa, ao entrar novamente no quarto sentiu um forte sono, dentando-se na cama e dormindo profundamente até o dia seguinte. Pela manhã, Nice acordou revigorada e com uma estranha alegria no coração.
Após tal episódio, as noites de sono se tornaram agradáveis e um grande vigor veio sobre ela. Parecia loucura, mas a manha da fotografia começou a diminuir.
Um ano se passou. Nice conheceu em seu novo emprego um jovem chamado Caio, o qual, após várias tentativas conseguiu levá-la pra sair.
Aos poucos, Caio foi ganhando seu coração, até começarem a namorar e se casarem um tempo depois. Pouco antes do casamento, Nice se entristeceu. Lembrou-se de Pierre e sentiu um aperto, como se o estivesse traindo, ou ainda pior, que com Caio aconteceria exatamente da mesma forma.
Chegando em casa, há uma semana do casamento e com esta tristeza, Nice notou algo de muito estranho. A mancha da fotografia de Pierre havia desaparecido por completo e seu radiante sorriso voltou. Nice começou a compreender. Seu amado, na verdade queria que ela se libertasse daquela tristeza, e sua alegria dependeria da alegria dela.
Nice chorou, mas dessa vez de emoção, de felicidade, pois parecia ouvir a voz de Pierre, através de tal fotografia sobre a alegria que sentia na outra vida, quando sua amada voltara a viver nesta vida.
O cemitério já estava encharcado pela forte tempestade que caía, quando Kathy caminhava, como de costume, em direção a um túmulo. Os relâmpagos clareavam o céu, iluminando as lápides das tumbas. Kathy parou no túmulo de Peter Grey, o homem que ela amava e por quem daria sua própria vida. Era difícil acreditar que agora o seu corpo estava ali, enterrado, sendo consumido pelos vermes.
Peter sempre dirigia com grande, habilidade, mas nunca poderia imaginar que seu trágico destino já estava selado, colocando-o frente a frente com um caminhão e provocando sua morte instantânea. Todas as noites Kathy ia ao cemitério para dizer-lhe boa-noite. Ela acreditava que Peter voltaria e, por isso, ainda mantinha o apartamento que ambos decoraram antes de marcar a data do casamento. Era impossível esquecer um amor tão profundo e, com os olhos cheios de lágrimas, saiu do cemitério sem perceber que um estranho vulto a acompanhava. Chegando ao apartamento onde ela e Peter tinham planejado viver, Kathy pegou o retrato de seu querido noivo. Misteriosamente o sorriso de seus lábios havia desaparecido e quando ela tentava compreender aquele estranho acontecimento a campanhia tocou. Kathy levou um grande susto. Ninguém sabia aquele endereço. Quem poderia ser?
Com as mãos tremulas, ela abriu a porta, sorrateiramente. Um vulto sinistro usando um sobretudo preto surgiu à sua frente.
- Quem é você? – perguntou Kathy apavorada.
- Sou Alan Grey, o primo de Peter.
Peter sempre falou que não tinha parentes. Quem seria aquela criatura?
Kathy estava curiosa e mandou que Alan entrasse. Só quando se acalmou pôde notar que ele se parecia muito com Peter. Foi então que Alan explicou que eles eram grandes amigos e Kathy começou a simpatizar com ele. Inexplicavelmente os dois logo se apaixonaram e Kathy ficou aflita por estar traindo a memória de seu noivo. Súbito, Kathy observou algo estranho na fotografia de Peter. Ele sorria novamente como se estivesse aprovando o seu amor por Alan.
Agora Kathy tinha certeza do que havia realmente acontecido. Peter havia voltado do além, em outro ser e estava ali, envolvendo-a, novamente, em seus braços!