O Canibal de Campinas
A noite de verão estava convidativa para uma baladinha básica. Anita, com seu vestido curto e carregada de maquiagem, além dos cabelos bem escovados fez mais uma saidinha de rotina, naquela sexta-feira de janeiro.
Iria para uma balada dos anos 80 juntamente com Cléo e Taty azarar um pouco, tomar umas bebidas e ficar legal.
Anita trazia consigo um histórico de azar no amor. Seus namorados costumavam desaparecer sem deixar rastros.
Naquela noite tudo estava seguindo perfeitamente. A moça atraente, ainda mais chamativa devido às suas roupas provocantes logo atraiu a atenção de um rapaz que ficou admirando-a à distância, até tomar coragem e se aproximar.
Conversa vai, conversa vem, alguns drinks e já estavam os dois saindo e entrando no carro do moço, com pinta de bacana.
Para Cléo e Taty já era de costume voltarem sem sua amiga, que em geral chegava apenas por volta do meio dia do sábado, isso quando voltava. As três dividiam um apartamento, a fim de racharem as despesas para pagar a faculdade. Todas saíram da cidade de sertãozinho para estudarem fora.
As duas meninas retornaram para casa por volta das cinco da manhã, e para surpresa de ambas, lá estava anita, dormindo sentada na cozinha e o apartamento, virado aos avessos.
- Noite agitada, em amiga... disse Taty
Sem obter respostas, resolveram levar a pobre Anita, tomada pela embriagues à sua cama para descansar. Cléo porém notou marcas de sangue nas unhas de Anita.
- Vamos deixá-la acordar e depois perguntamos.
Mais tarde, Anita acordou muito irritada e com cara de poucos amigos. Disse que estava com dores de cabeça. Ao ser indagada sobre as marcas de sangue nas unhas, disse que apenas havia coçado as pernas e ferido um pelo encravado. História estranha, porém as amigas preferiram deixar como estava.
Na semana seguinte, o comportamento de Anita estava cada vez mais estranho. A moça estava faltando quase todos os dias na faculdade. Parecia estar deprimida e chorava pelos cantos.
Taty resolveu indagá-la, perguntando sobre o rapaz com quem tinha saído, se por acaso havia feito algo de ruim com ela, mas Anita sempre se esquivava.
Dias depois, os telejornais reportaram um assassinato macabro. Um homem jovem fora encontrado morto. De acordo com o laudo pericial, o corpo do homem estava sem os olhos e faltando várias partes do corpo, principalmente cochas, panturrilha e glúteos.
Tal caso chocou a cidade, mas talvez pudesse interpretar vários outros sumiços de homens, idades diversas, nos últimos seis meses.
Na investigação criminal mais dois corpos foram localizados, nas mesmas características. Era evidente: ambos deveriam ser vítimas do mesmo assassino.
Quando tais notícias passavam nos telejornais, na sala do apartamento, Anita sempre se levantava para fazer alguma coisa. Cléo começou a notar tal estranheza de sua amiga diante desses fatos. Cada vez que um novo corpo era encontrado nessas características, Anita ficava mais agitada. Ela havia abandonado de vez a faculdade e começou a arrumar as malas, rumo a Sertãozinho.
Na cidade de Campinas não se falava sobre outro assunto. Corpos de homens encontrados faltando partes e em estado de putrefação, todos achados em boeiros ou galerias pluviais.
As duas amigas, embora negassem por dentro, alimentavam um sentimento de revolta contra Anita. No dia que Anita disse que iria partir, Taty a encostou contra a parede, perguntando o que ela sabia sobre os assassinatos. Anita se esquivou, até a hora que Taty mostrou a ela um relógio masculino que havia encontrado no apartamento.
Anita confessou tudo. Disse que, já no apartamento, o rapaz tentou atacá-la com um canivete e ambos lutaram, até que ele bateu com a cabeça na parede, ficando meio tonto. Anita, desesperada pegou o canivete de suas mãos, atingindo-lhe o coração. Desesperada, levou o corpo do homem até o carro dele e despencou o veículo em um barranco. Ele era filho de um policial, o que complicou ainda mais a situação da moça.
Embora Anita alegasse inocência, Taty considerou que ela fosse a real culpada não somente por este, mas por todos os crimes comentados no noticiário, entregando sua amiga à polícia.
Dias depois, Anita conseguiu um habeas corpus, respondendo em liberdade, alegando seu advogado que a moça agira por legítima defesa.
Mas algo não batia nas investigações. Se todos os corpos estavam em condições parecidas, faltando partes, como a moça teria cometido todos esses assassinatos, de seus ex-namorados, alegando assim sua falta de sorte no amor?
O delegado responsável resolveu pedir a exumação do rapaz, sob os protestos de seu colega e pai. No corpo não haviam sinais parecidos com os demais assassinados, apenas uma ferida na cabeça e uma facada no peito. Teriam então os laudos sido manipulados. Tudo começou a fazer sentido.
Após uma busca na casa do rapaz, foram achadas diversas evidências, mas a pior de todas estava em um freezer no porão da casa. Dentro dele, pedaços de carnes, em formatos estranhos. Após análise, constatou tratar-se de carne humana.
Crimes esclarecidos! O canibal de campinas descoberto. Anita seria apenas mais uma vítima, a única mulher da história.
Após julgamento foi absolvida, por ter agido em legítima defesa. Anita porém voltara a Sertãozinho, abandonando o sonho de se formar.
TAty e Cléo tentaram reatar a amizade, mas Anita estava muito magoada, por ter perdido o apoio daquelas que considerava realmente amigas, as quais duvidaram de sua versão. Ponto final.