Hospital Macabro II- paciente, seja mais paciente ( republicação com uma parte inédita)
-Acalme-se está quase nascendo...
A voz de Doutora T entrava em meus ouvidos suavemente deixando-me apreensiva. Seu semblante calmo me apavorava e meus berros de dor ficavam ainda mais agudos.
-È um lindo menino!
Sorri ao ouví- la gritar essa informação junto com a melodia desafinada do choro.
Embanhado em sangue, a doutora coloca meu filho ao meu lado. Tremendo de emoção vejo seus olhinhos, que nem abriram-se, mas que já vazia reluzir de felicidades meu coração maternal.
Batem na porta mas doutora parece não ter ouvido, então entra um senhor com uma prancheta na mão pedindo-me o bebê.
Olhando o doutor segurar meu filho e levá-lo, pergunto á médica para onde ele está o levando. A doutora com uma calma que amedrontava me dizia:
-Seu filho vai para um bom lugar...
Por não conseguir decifrar sua expressão saio da cama carregando o soro.
De longe acompanho triste Doutor C sumir com meu filho nos braços dentro do corredor sem fim.
Depois de receber uma coronhada na cabeça acordo amarrada á maca. Com insuportável calor da sala mofada suor grosso pinga de meu rosto em resposta a escaldante tarde daquele domingo:
-Onde está meu filho?- indago sem força virando os olhos por falta de nutrientes.
Começo nausear, em seguida o vômito sai. Degetos líquidos escorre entre minhas pernas e me contorço. Ligeiras flatulências denunciam meu estado de desnutrição extrema. A doutora de olhar penetrante, sente nojo e se retira do quarto.
Sozinha batendo-me sobre os lençóis ainda sujos com sangue do meu parto, me livro das cordas que me aprisionavam...
Diarréia desce-me voraz quando ponho-me de pé. Sigo deixando um rastro nojento e fedido pelo hospital.
Pisando no corredor sujo, esbarro em um cadáver jogado ás moscas, tapo o nariz e corro em direção a saleta dos fundos. O mal cheiro feito por mim unido ao do cadáver me faz desmaiar.
Entro na sala ao fundo, Doutor C está atento ao trabalho que tem que executar. Acariciando o abdômen da vítima, ele o espeta fazendo meu filho chorar, e consequentemente, me despertar do desmaio. Abria meu pequeno bebê devagar, como se não se importasse de como estava sendo torturoso para mim ver tal cena.. Fiquei inerte de tão chocada. Empalideci ouvindo seu choro de dor, em seguida o silêncio repentino indicando sua morte.
O miserável cortava, a tesoura cega, para me ver sofrer ainda mais, não fazia o trabalho direito obrigando o doutor a puxar estupidamente os delicados pulmões, que mal se formaram.
O calor realmente era insuportável, Doutor C passou as mãos no rosto, juntamente com a tesourinha e acabou fazendo um corte na própria testa. Com o ambiente sujo e seu jaleco com terra, a ferida enchia-se de bactérias formando pus. Ele não ligava continuava seu trabalho. Os orgãos de meu filho iam sendo cuidadosamente ensacados por aquelas mãos enluvadas. O doutor soltava uns gemidos ao sentir o suor salgado e quente invadir a ferida ainda não cicatrizada.
Quando percebeu minha presença, ele me mandou voltar para o quarto com um grito ensurdecedor.
Lágrimas caiam involuntariamente de meu rosto ao lembrar do primeiro dia em que segurei meu filho...
Minha única sina aquela hora foi me conformar com o destino de meu tão sonhado bebê.
Segurei firme o corpinho desfalecido de meu filho, com as viceras saindo e gritei olhando para o céu:
-MALDITOOOOO!
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Doutora T ao cruzar com a faxineira a puxou pelo colarinho e disse:
- Vá limpar o quarto de Isaura!
-Mas... Doutora meu horário acabou preciso ir para casa...
O olhar que T lançou fez com que a faxineira prometesse até hora extra.
-Limpe tudo! Quando estiver brilhando e cheiroso você sai... Será moleza...
Ao entrar no quarto , a faxineira olhou aqueles escrementos que iam da sala ás frestas do piso no corredor que só acabavam na entrada da sala cirúrgica, pegou o esfregão, segurou firme, ajoelhou e também gritou olhando para o céu:
-MALDITAAAAAAA!