O Boneco do Fofão
Muitas lendas e estórias cercam certos brinquedos antigos. Alguns desses fatos são na verdade apenas superstições mas o fato que vou relatar abaixo se refere a um fato real, à respeito de um dos mais famosos: O Fofão.
"" "" ""
Natal de 1986. Eu tinha apenas sete anos. Fomos a uma ceia de natal na casa do tio Beto, em uma chácara na região de Iguape. Estava ansioso para reencontrar meus primos e brincarmos muito naquele Natal.
Isabella, minha prima era a mais novinha, com quatro aninhos. Ela ganhou de minha tia um boneco do Fofão. Naquela época adorávamos assistir o Fofão na TV preto e branco. Era muito engraçado ver ele falando errado e rindo feito louco. Então, acabamos todos juntos querendo brincar com o boneco da Bella.
Um dia seguinte ao Natal caiu uma forte chuva e ficamos todos dentro de casa. Meus pais e meus tios bolaram muitas brincadeiras e jogos para passar o tempo e acabamos esquecendo um pouco o tal boneco, que ficou em cima da estante.
Durante a madrugada, me levantei e fui até a cozinha tomar um copo com água. Todos estavam dormindo. O boneco estava no mesmo lugar que deixamos pela manhã. Quando retornei ao quarto tomei um grande susto. O Fofão estava caído no meio do corredor da sala, bem no meu caminho. Gelei da cabeça aos pés, pois ninguém estava acordado.
Mesmo assim, o peguei e coloquei de volta na estante, retornando ao meu quarto.
Enquanto dormia tive um pesadelo e acabei acordando. Estava muito escuro e ao olhar para o lado, vi meus pais dormindo feito anjos. Quando me virei para tentar dormir novamente, nossa, ele estava ali na minha cama! Aquele boneco, como foi parar ali. Dei um grande grito, acordando minha mãe, que veio ao meu encontro. Chorando, contei a ela e, com ternura me abraçou dizendo para eu não me assustar, que estava tudo bem.
Claro, estava na cara que ela não acreditou em mim, mas mãe é mãe. Retirou o boneco do quarto e, para que eu me sentisse mais calmo, ela o colocou dentro de um armário antigo, fechando com um trinco, só para eu me acalmar. Me lembro dela na minha cama. Acho que ficou lá até eu pegar no sono.
Na manhã seguinte nem me lembrava mais do susto. O Sol reapareceu e fomos brincar no quintal. Meus pais acordaram mais tarde. Quando minha mãe foi até o banheiro pisou em falso, caindo no chão, fraturando o pulso.
Meu pai me chamou nervoso, dizendo que minha mãe caíra após tropeçar num brinquedo, jogado no chão, e advinha qual era o tal brinquedo?
Ela mesma ficou assustada, pois sabia que o havia deixado trancado no armário. Após enfaixar seu pulso, minha mãe chamou a todos, contando o que havia acontecido, inclusive meus relatos.
Por bem, meu tio resolveu queimar o boneco do Fofão. Jogou-o na fogueira até que fosse reduzido a um monte de plástico retorcido. Na manhã seguinte nos arrumamos e partimos.
De dentro do carro, uma imagem macabra deixou em mim uma cena inesquecível. Em cima do telhado da casa, intacto lá estava ele, o tal boneco do Fofão, virado para a direção do nosso carro, com uma das mãos levantadas, como que em despedida.
Meses depois, meus tios venderam a casa de Iguape.