Eu sou a morte-parte doze
Salvei meu assassino da morte. Pode parecer irônico, mas eu não podia deixar que se livrasse de mim com tanta facilidade! Ao ser privado da mulher e do futuro herdeiro, o sujeito se tornou apático. Eu que havia me tornado sua sombra, percebi que algo não ia bem. Ele quase não dormia não se alimentava e passava a maior parte do tempo agarrado à foto da garota falecida. Posso afirmar que nem a morte dos filhos do primeiro casamento, o fez sofrer tanto. Nos primeiros dias, eu tentei assustá-lo. Derrubava vasilhas na cozinha, imitava a voz da morta até me materializei na sua frente, mas João Carlos estava indiferente a tudo. Quando me viu, o desgraçado começou a gargalhar e a pedir que o matasse. Fiquei decepcionada. Assim estava fácil demais! Coloquei em sua mente, que deveria se matar e o idiota tentou o enforcamento. Deixei que quase conseguisse seu intento e então cortei a corda e o salvei. Esse quase suicídio deixou sequela, suas cordas vocais foram atingidas e ele se tornou mudo. Era ver um espantalho, com um olho vazado e agora se comunicando por gestos! Pessoas como ele acabam atraindo a compaixão alheia, e uma vizinha, uma senhora de quase setenta anos, passou a visita-lo diariamente. Ela levava-lhe comida e arrumava a casa. Com os cuidados da mulher, o pilantra foi se restabelecendo e logo voltou aos roubos. Em um desses assaltos tentou esfaquear uma vítima e acabou sendo atingido por dois tiros, disparados pelo marido desta. Foi socorrido e depois de um mês hospitalizado, voltou para casa com um braço amputado. A bondosa senhora continuou a cuidar daquele ser miserável, que passava os dias fechado em seu fétido quarto. (fim da décima segunda parte) 09/04/12