Eu sou a morte-parte onze

João Carlos passou alguns dias no hospital e ao voltar para casa, ficou estabelecido que até que se recuperasse Sarita é quem cuidaria da manutenção do lar, ou seja, seria a responsável pelos furtos. Todas as noites a ladra saia para aplicar golpes. Enquanto isso o marido ficava em companhia da enteada de dezesseis anos. A perda do olho direito, não impediu que o cara passasse a cobiçar a menina, e essa por sua vez tendo herdado da mãe péssimos costumes, incentivou o assedio. Assim que Sarita saia, os dois se entregavam aos prazeres carnais. Eu observava tudo e esperava a oportunidade de agir. Oque não demorou. Os dois pombinhos estavam tão enlevados, que se esqueceram dos cuidados básicos e uma gravidez aconteceu. O medo de serem descobertos atormentava seus dias. A garota temia a brutalidade da mãe e João Carlos temia perder a jovem amante. Só havia uma saída e após conversarem, uma coisa ficou certa: Sarita tinha que morrer! Tudo foi acertado e uma madrugada quando ela voltou, o marido pretextou uma discursão e a matou estrangulada. Os amantes então cavaram um buraco no fundo do quintal, jogaram cal em cima do corpo e enterraram. O fantasma da falecida ficou rondando por ali procurando vingança, mas foi escorraçada por mim. Aqueles dois me pertenciam! Ia deixar que aproveitassem um pouco mais aquele amor condenado. João Carlos voltou a praticar furtos para poder cuidar da esposa adolescente e do filho que estava á caminho. A perda de uma visão tornou mais difícil a empreitada, e consequentemente ele se tornou mais perverso. Descontava nas vítimas a sua cegueira. Por qualquer motivo as agredia covardemente e ameaçava voltar para assassinar, se dessem parte á polícia. A gravidez estava transcorrendo tranquila. A garota estava no quinto mês quando decidi adiantar o parto. Era uma noite chuvosa, ela dormia sozinha em casa. Sentei na cama e acariciei seu rosto. Despertada por meu toque gelado, a menina acendeu a luz da cabeceira. Oque eu não sabia e descobri naquele momento, é que as grávidas conseguem ver assombrações, por se tornarem sensíveis nesse período. Ao constatar minha presença, ela correu para a rua gritando e não viu um carro que se aproximava em alta velocidade. O motorista que a atropelou, era um jovem que estava embriagado, e por medo de represália fugiu sem prestar socorro. A moça ainda estava viva quando vizinhos surgiram para ajudar, mas eu não queria salvação para ela. Enfiei a mão em seu peito e esmaguei seu coração, que foi batendo cada vez mais fraco, até parar. (fim da décima primeira parte) 09/04/12