NOITES CANGACEIRAS! O FEL DO SERTÃO.

A gameleira assobiava alto no fogo latente e o nambú cozinhava delicioso no acampamento cangaceiro. Maria joá gritava aos 7 sois sertanejos:

- Simbora cambada que a gameleira tá fervente!

E lá vinha a cambada de homens sujos e matrapilhos , mas de coração nobre. Seu guia era nada mais nada menos que o profeta Eliseu que acompanhava o grupo fazia mais de mês, Eliseu era profeta nas horas vagas pois quando a macacada avançava, tiros de bacamarte ele fazia roncar como o fole de oito baixos das sanfonas forrozeiras. A noite já estremecia gélida quando o bando de 30 cangaceiros se fartavam de nambú e cachaça com direito a manteiga de garrafa surrupiada da fazenda Oeste e rapadura comprada do coiteiro jiló.

Após a trivial reza para o padim, Badalada gritou para seus homens:

- Vamo cabras, tu Navalhada vai montá guarda na dereita e tu Meioquilo fica na retaguarda viu. Mais uma coisa si dormir eu te capo cabra da peste ta intendendo filho do cão?

A resposta de Meioquilo foi levantar-se de sopetão apanhar o fuzil velho e ir capengando lá pros fundós do acampamento. Aquela semana tinha sido apoquentada a vero, Badalada tinha entrado na pequena vila Cabroeiro e travado feroz batalha contra os coronéis daquele muquifo. Muitos mortos foram necessários para Badalada derrubar o cerco macaco, dizem que até o prefeito morreu com tiro no peito e sangue na boca. Mas Badalada era assim, não fugia de uma matraca, se mexiam com ele , ele sentava fogo até em praça do exército brasileiro. Diz a lenda que Badalada se encontrou com Lampião que o abençoou e disse que ele seria seu seguidor após sua morte. Depois desse encontro, Lampião foi morto em Angicos no Sergipe e Badalada com a morte de Corisco, passou a ser o cangaceiro mais procurado da região dos Oitizeiros.

Naquela noite frigida, Meioquilo estava inquieto, ele jurava ouvir algumas vozes que o deixavam louco, pareciam uivos do cão do inferno e as vezes pareciam prantos de crianças mortas ele estava muito nervoso e tremia na soleira da alpercata até o penduricalho do chapéu estrelado. Num instante todos já dormiam com exceção de Meioquilo e Navalhada que montavam guarda a espreita de um eventual ataque de volante. Diziam os coiteiros que rondava por estas paragens sertanejas, esta volante era comandada pela coronel Vitalício Nonato que já tinha enfrentado Lampião nos cafundós do agreste pernanbucano e agora pedira permissão ao governador do Ceará para caçar Badalada que diziam estar nos beirais da Serra Grande perto do gruta do Ubajara.

Meioquilo já trêrmulo ouviu um gemido, mas não arredou o pé de seu posto, começou a mascar fumo de rolo e a beber pinga para afrouxar os nervos. Novamente ele ouviu o gemido que parecia vir por detraz dos mandacarus obscuros, de repente ele viu um pé de seriguela se mexer, coçou os olhos e depois nada viu e começou a tremer, fez pontaria, recuou, cuspiu, peidou, mascou, cuspiu fumo novamente e sorveu outro gole da caçhaça e depois começou a soluçar de nervoso, seu suor era frio e seu medo era infindo, pois ele estava como medo de acordar Badalada e ser capado por ele e também esta com medo daquela assombração. Seria um Lobisomem ou a Mula sem-cabeça ou ainda o Caiapora. Ou seria o proprío Satanás que viera buscar sua alma pervesa que abusava de donzelas incautas e decapitava filhinhos de coronéis, sim Meioquilo já tinha feito de tudo nesta vida desgraçada, roubou, matou, desgraçou donzelas, fez filho, enfim fez o diabo e naquela noite ele estava tremendo de medo. Novamente um gemido e agora um violento baque. Meioquilo se esgoelava de dor onde de sua garganta jorrava uma fino jato de sangue, de joelhos e agonizante, Meioquilo só teve tempo de dizer:

- Você nãaaaaaaaaaaaaaaooooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!

O fel sertanejo só estava começando!