A Morte de Carla "Baseado em fatos reais"
Em uma noite de sexta-feira nossa amiga estava eufórica. Trabalhamos muito animadas, brincando umas com as outras com aquelas piadas que só as mulheres falam entre si.
O serviço estava muito tranqüilo. Carla contou que noite passada tinha dormido fora de casa. Ela morava comigo e dividíamos as despesas do cômodo e banheiro alugado, perto de Osasco. Aquela tinha sido a primeira noite de amor com seu namorado e claro, iriam repetir a dose todo o final de semana, porque ele havia alugado um apartamento no litoral paulista, só para os dois, uma verdadeira lua de mel.
Ficávamos enchendo a Carla, com aquelas perguntas maliciosas. Ela só sorria, mandando a gente parar, nos chamando de bobas.
Mas por que de tamanha comemoração? Bem, minha amiga Carla, com a qual dividia moradia era a pessoa mais linda, mais especial deste mundo. Me ajudou no momento que mais necessitei na vida.
Quando eu estava desempregada me ofereceu onde morar e me emprestou dinheiro até conseguir uma vaga para mim aqui na lanchonete. Quando fui pagar ela não quis aceitar.
Carla vivia solitária, sem namorar desde a morte de seu noivo, em 2009. Demorou para aceitar, ficando muito tempo solteira, até conhecer o Cláudio, um mecânico de motos.
Aquele momento significava muito para mim, acreditem, pois era um claro sinal que minha amiga, e por que não dizer irmã, estava superando uma fase complicada e pronta para se refazer.
Quando saímos, peguei um ônibus e me despedi dela apenas com um beijinho no rosto e votos de boa sorte e tudo de bom. Era nossa despedida final.
Cah, como eu a chamava pegou o trem na estação de Osasco, destino Santo Amaro, onde Cláudio a estaria esperando, perto do Largo Treze. Daí em diante, os fatos que vou contar são baseados nas câmeras de segurança da estação Largo Treze.
Carla desceu do trem e se sentou no banco pra ligar para Cláudio, perguntando se ele já estava no local marcado.
De repente, Carla ficou irritada e começou a gritar no celular. Ela gesticulou com as mãos, ficou de pé e colocou sua bolsa no banco da estação. Fechou o celular, colocando-o junto com a bolsa, enquanto passou as mãos no rosto, como que enxugando as lágrimas. Desnorteada, caminhou próximo à faixa amarela, onde os trens param permanecendo imóvel por alguns instantes. Quando o trem chegou à estação, ao passar próximo a ela, Cah se jogou na frente do trem, morrendo instantaneamente, não permitindo ao maquinista sequer tentar frear.
Quando o trem parou, ainda era possível ver seus olhos castanhos, bem abertos embaixo das rodas da composição. Carla estava morta.
Depois daquele choque todo, procurei pelo telefone de Cláudio na agenda do celular mas não achei. Ela deveria tê-lo apagado. Depois ficamos sabendo do óbvil, que Cláudio terminou com ela, após proferir palavras ofensivas. O Coração da Cah, muito sensível e uma depressão recente talvez a tivesse impulsionado a tal ato.
Hoje, após dois anos ainda sinto a falta dela e sempre vou sentir. Minha amiga, minha irmã, a pessoa mais linda e especial desse mundo. Não posso julgar seus motivos para tal atitude e nem chamá-la de covarde. Apenas saudade, é isto que me resta.