Quem matou Jéssica?
A mãe voltava do banheiro nervosa com a filha já banhada no colo. Reclamava e gritava com o marido nos corredores. Pisava com seus chinelos molhados e fazia muito barulho com a borracha das havaianas. Colocou a menina enrolada na toalha, ainda molhada e sem roupa em cima do sofá, dizendo para o marido o quanto estava aborrecida com seus feitos ultimamente.
Ele por sua vez , chegou do quarto ajeitando o palitó, completamente agressivo e também discutiu:
-Não... Tenho que trabalhar feito condenado e sem me divertir, é isso?
-Você quem virou homem da empresa só para ter a desculpinha de vagabundiar feito um moleque na noite...
A conversa se esticava. A menina despida caçava com a língua gotas de água que caiam de seus cabelinhos louros. A mãe continuava a gritar com o marido:
-Você quer é nos abandonar!
-Nunca! Amo a minha filha... Por quê você acha que eu bajulo o desgraçado do meu chefe e aquela mulherzinha dele?
-Então admite que tem outra? -interrompia a esposa nervosa.
-Não... não é isso... Bajulo os dois para conseguir a minha promoção e dar a vida que nossa princesa merece! Os dois!
A discussão seguia. A menina olhava o cômodo com a pintura descascada. Olhou o fio desencapado que estava na sala assim que ouviu a mãe comentar sobre ele para o marido, que há tempos não arrumava:
-Ah, é mesmo? Enquanto você corteja a dondocona a nossa casa está caindo aos pedaços...
-Eu vou arrumar!-disse ele indiferente.
-O seu mal Sérgio é que você não liga para a sua filha, não dá atenção...
-Você quem não cuida direito dela! -grita ele nervoso.
-Você nem sequer olha a menina, nem sequer sabe do dia dela...
-Você sabe? Quer é jogar nossa filha contra mim...
-Não! Exijo que você olhe para ela como eu... Como mãe, entende?
-Sei muito bem o que é melhor para a minha filha, pois eu a conheço melhor do que você!
-Eu a amamentei, ela saiu de mim...- batia no peito a mãe.
-Mas você não a fez e nem criou sozinha...
-Mas...
Os dois param ao ouvir um barulho. Olhando ao mesmo tempo para atrás vê a filha pequena sendo eletrocutada no chão, com a mãozinha no traiçoeiro fio descascado, morrendo lentamente, o brilho do choque de alta voltagem tomando conta de seus pequenos glóbulos oculares...