O Livro de São Cipriano

Talvez você já tenha ouvido falar de São Cipriano. Segundo a lenda, São Cipriano teria passado boa parte de sua vida dedicado aos encantos e magias, um verdadeiro bruxo.

Certa vez, São Cipriano teria encontrado uma mulher, de nome Justina, convertendo-se em seguida ao cristianismo.

Mas o que realmente desperta o interesse das pessoas são os famosos "livros de São Cipriano". Serial livros de magia, suportamente atribuidos a ele, como escritor. Um dia, Ádila encontrou um desses livros...

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Ádila era uma garota de dezessete anos, como muitas outras, moradora de uma cidade portuária do sul do país. Estudante, Ádila tinha muitas dificuldades de se relacionar com as pessoas, talvez por conta de não ser uma mulher agradável aos olhos.

Obesa, cabelos rebeldes e mal vestida, certa vez, toda atrapalhada escorregou-se na rua, caindo e batendo com as costas numa guia de calçada. Desamparada, Ádila chorava as dores do impacto, alimentadas por uma vida pobre e uma mãe doente.

Um belo rapaz que passava pelo loca, ao vê-la em tais circunstâncias foi ajudá-la a se levantar. Com dificuldades devido ao peso elevado da moça, mesmo assim ajudou-a a se sentar, dando-lhe alguma atenção. Minutos depois, o rapaz seguiu seu caminho, deixando o número de seu telefone celular, caso a pobre necessitasse de algo ao seu alcance.

Os dias se passaram e Ádila não tirou o tal rapaz da cabeça. Ficava radiante ao se lembrar de todo aquele carinho, envoltos num belo jovem, em um perfume masculino inesquecível.

Ádila se apaixounou. Por vezes tentou telefonar para o moço, ora para agradecer, ora para tentar puxar conversa. E assim foi. Ligou e prontamente, o educado rapaz atendeu e foi muito atencioso. Isso se repetiu algumas vezes, até que o tal moço não atendia mais seus telefonemas.

O desespero começou a tomar conta de Ádila. Parecia que o tal moço se enxera e não tinha mais assuntos a tratar. Como ele poderia se interessar por ela? Mesmo assim, a moça insistia, gastando o pouco dinheiro que tinha com vãs ligações e recados na caixa postal.

Em uma quarta-feira de primavera, Ádila saiu na intenção de conseguir um emprego e assim ajudar sua mãe que, doente recebia uma miséria de pensão. Na estação do metrô teve uma visão celestial. Era ele, o tal rapaz bonito. Estava envolto num elegante terno preto, de pé.

Toda sem arranjos, Ádila apressou os passos em direção ao seu deus perfumado. Toda maljeitosa, roupa descorada e um forte cheiro de suor. Quando pronunciou seu nome em alta voz, o moço baixou os óculos e a viu de longe, e do nada surgiu, à sua direita uma bela mulher, muito elegante, cintura fina, cabelos loiros, a qual deu-lhe um beijo romântico, entrando em seguida com ele, numa composição que acabara de estacionar na plataforma.

Ádila se revoltou. Naquele momento, todo tipo de pensamento pairou em sua mente. A revolta pela vida paupérrima, a obesidade mórbida, o desjeito, a traição...traição? Sim. Para Ádila, o tal moço a havia traído. Ele era o grande amor de sua vida, mas pertencia aos braços de outra.

Na cabeça da pobre menina nasceu um plano de vingança. Aquele homem, juntamente com sua comparsa havia destruído seus sonhos de menina. Mas como faria talvingança.

Ao vasculhar uns livros velhos em sua casa, em meio a baratas e traças encontrou uma publicação muito antiga, de capa dura e vermelha escrita "O Livro de São Cipriano". Ao abrí-lo, após alguns espirros por conta da alergia, encontrou ali um livro de magia negra, com os ensinamentos aprendidos por São Cirpriano, da bruxa Évora.

Uma dessas magias tratava de vingança contra traição. A receita era simples: deveria acender algumas velas em uma encruzilhada, escrever em um papel o nome dele e colocar dentro de um prato com grãos de pipoca queimados. Após isso, pronunciaria uma reza em latim.

Na noite de sexta-feira daquela semana, à meia-noite, Ádila foi ao local e providenciou tal ritual. Quando terminou de pronunciar as palavras, ouviu freadas de um automóvel, vindo em sua direção, mas nada pôde fazer. O carro bateu fortemente contra o muro da encruzilhada, matando a pobre moça atropelada. O motorista, um pouco ferido se levantou e reconheceu a garota feia e morta: era a moça que ele ajudara a se levantar do escorregão na calçada.

Paulo Farias
Enviado por Paulo Farias em 23/03/2012
Código do texto: T3570948
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