Cemitério Chora Menino

Conta-se que no bairro de Santana, na São Paulo do século XIX havia uma rua chamada Copacabana, perto do cemitério.

Nessa época, São Paulo era muito diferente do que é hoje. Muitas epidemias assolavam a população e isso fez com que novos locais fossem pensados como necrópoles, para acomodar tantos mortos. O cemitério da Santana já existia, também conhecido com cemitério judaico.

Naquele ano, um jovem casal adquiriu um lote nessa Rua Copacabana e iniciaram a construção de sua casa. Eles haviam se casado recentemente e o rapaz queria fazer sala para a família de Daniela, a prometida.

Daniela porém não era feliz. Aliás, seu casamento fora arranjado pelos pais que enxergavam naquele moço alguém de futuro para a filha. José era funcionário da prefeitura e tinha uma boa condição financeira, mas estava longe de ser o amor da vida de Daniela, primeiramente porque era vinte e cinco anos mais velho e também porque a moça havia entregue seu coração para um jovem mensageiro, que morava no Alto de Pinheiros.

José era um homem rude. Gritava com a esposa e a tratava muito mal, chegando a espancá-la muitas vezes.

Então, em um belo dia, Daniela saiu de casa e foi encontrar-se com o

mensageiro. José estava viajando e demoraria a voltar.

Tomados pela paixão, ficaram juntos naquela tarde e isso se repetiu muitas vezes. Meses depois, Daniela percebeu-se em estado interessante, tendo a certeza que o pai de seu filho era o mensageiro.

Com medo de seu marido, Daniela não sabia o que fazer, quando em um ato desesperado, na mesma noite da volta de José disse que estava grávida. José ficou contente com tal notícia, achando que seria pai.

Quando a criança nasceu, porém, era muito diferente de José. Este, desconfiado pressionava Daniela e esta negava veementemente qualquer traição. Avisado por alguns conhecidos, José descobriu o caso de Daniela e foi até a casa do mensageiro. Ali mesmo José o matou, arrancando-lhe o coração.

Daniela ao saber da notícia foi tomada pelo terror. Desesperada atirou a criança em um barranco, fugindo em seguida.

A criança veio a falecer e foi enterrada no Cemitério de Santana.

Muitos anos depois, quando José já estava morto, Daniela retornou ao cemitério a fim de procurar o túmulo de seu filho. Durante anos caminhou pelo cemitério mas nunca encontrou a tumba. Ela ouvia todas as noites o choro de sua criança ecoar em seus ouvidos. Um choro de dor, de saudade, de remorso e tristeza. O choro do seu menino.

Paulo Farias
Enviado por Paulo Farias em 22/03/2012
Código do texto: T3568379
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