Esdrúxulo- parte 2 - Lua Turva
Esdrúxulo- parte 2 - Lua Turva
A fera foi se transformando em seus braços , sem conseguir se desvencilhar de suas mãos fortes, embora o rapaz tivesse de usar de toda sua força sobre humana para tal.
A aparência estranha e despropositada de animal do qual tivessem sido arrancados todos os pelos foi dando lugar a uma bela jovem, a mesma jovem que fazia seu coração pulsar acelerado a cada encontro.
Ela era da casta dos lobisomens e sua peculiar falta de pelos fez com que , assim como ele, ela fosse escorraçada pela sua espécie.
Passara pelo mesmo martírio do bulling e do desprezo de seus semelhantes e assim como o rapaz havia decidido viver entre os humanos. A diferença entre ambos é que quando a lua cheia preenchia o céu ela sofria a metamorfose de seu corpo.
O segredo de ambos havia se revelado aos primeiros raios do sol, ele o vampiro sem presas, ela a lobisomem sem pelos, duas aberrações em suas comunidades familiares, duas almas sofredoras que se negavam o amor por conta de suas origens.
A atmosfera entre ambos era tensa e ao mesmo tempo romântica.
Se por um lado agora nada os impedia de se relacionarem, por outro, a rivalidade e o ódio reinante entre as duas castas transformavam-nos em uma espécie de Romeu e Julieta sobrenaturais...novos Capuletos e Montéquios em eternal rivalidade de suas famílias.
A ambígua revelação e os sentimentos confusos e conflitantes invadiram suas almas juvenis, um beijo colou seus lábios por um breve instante mas ela logo se desvencilhou dele e correu para longe de sua presença.
Poderiam esses jovens superar as diferenças e o ódio das castas que lhes haviam virado as costas? Seria o seu amor, um amor maldito, sem condições de prevalecer, deixando seus já destroçados corações ainda mais torturados?
Os dias seguintes foram de uma tortura infinita, evitavam a presença um do outro, num misto de medo e instinto primitivo.
Ela, mais do que ele, havia se refugiado em seu silêncio, permanecendo num estado de semi-clausura, evitando sair de casa por medo de não resistir aos desejos de seu coração. Tinha medo da tragédia que poderia acontecer embora ambos estivessem afastados de suas castas de origem.
Ele por sua vez, não sabia o que pensar, sua mente confusa só conseguia ver o rosto dela por onde quer que fosse, tinha temores quanto ao destino, é verdade, mas não temia enfrentá-los, se e quando fosse necessário para estar ao lado da jovem que lhe arrebatara o coração.
A própria lua, eterna madrinha dos amantes, parecia turva aos olhos dos dois apaixonados, como se o seu brilho fosse ofuscado por uma névoa escura do destino.
Ah, insensato destino que uniu dois coração para afastá-los qual fosse uma maldição premeditada pelos deuses.
Mas a paixão era de tal forma intensa que mesmo contra todos os prognósticos ou oráculos desfavoráveis a atração entre eles parecia aumentar quanto mais a distância os torturava.
Danton e Beatrice precisavam encontrar o seu destino...fosse ele qual fosse...
Continua...
Salvador, 8 de março de 2012