AS BARATAS

AS BARATAS

Jorge Linhaça

Elas invadem os cantos sombrios rastejando por entre as menores frestas , mais antigas que o homem se adaptam a quase todo ambiente conhecido alimentando-se de tudo que conseguem encontrar.

Existem aquelas que são voadoras, invadem janelas causando repulsa e fobia a uns tantos humanos

Hoje as vejo por sobre meu corpo, suas patas peludas a deslizar sobre mim, elas me mordem, roem minha carne imóvel, em um banquete voraz e macabro.

Não posso mover-me, apenas contemplar o consumir do meu corpo vazio. invadem-me a boca qual adentram um esgoto, penetram-me os ouvidos e devoram-me os tímpanos.

Devoram-me as córneas qual fossem o mais saboroso dos pratos, e assim passa o tempo nesta escuridão até que elas e os vermes se fartem de minha carne.

Meu odor putrefato espalha-se no ar, mas não por muito tempo, o banquete terminará apenas quando nenhum tecido revestir meus ossos.

A tudo assisto preso em um limbo, sentindo náuseas diante da cena, como se assistisse a tela de um cinema onde as imagens se passam em câmera acelerada.

Este é o suplício dos impacientes, ver sua carne sumir lentamente, olhando ao próprio corpo sem vida, sem poder partir antes que o último fio de tecido seja consumido.

Salvador, 6 de março de 2012