Chocolates
Saí da Bomboniere Boa Vista com um caixa de chocolates de primeira. Mais à frente, comprei um vasinho de flores e fui até o carro.
Era uma bela noite do mês de maio, e estaríamos comemorando nosso primeiro ano de casamento.
Planejei aquela noite especial há vários dias e sabia que ela estaria também me esperando, toda perfumada e com um belo jantar a dois.
Saí tranquilamente pela Avenida Ipiranga, ao ouvir uma rádio de notícias pelo rádio do carro.
Ao abrir o semáforo, avancei lentamente, quando ao meu lado apenas vi uma imensa luz e um som estridente de buzina.
Senti meu corpo se desmanchar, em meio a pedaços de ferro e vidro, que me penetravam peito, barriga e crânio. Após alguns instantes de silêncio, abri meus olhos e me levantei, em meio a sons de sirenes e intensa movimentação de pessoas. Com uma certa distância vi o tamanho do estrago.
O carro, totalmente destruído, muito sangue e um homem, sendo retirado das ferragens do caminhão com vários ferimentos. Me sentei em um banco a observar, contente por não ter me machucado tanto quanto àquele senhor do veículo de carga. Sim, ele fora o culpado pelo acidente, mas nestas horas, isso pouco importa.
Alguns minutos depois, me lembrei do aniversário de casamento, e que iria me atrasar. Corri até o carro, na esperança de resgatar a caixa de chocolates. Não a encontrei.
Para minha surpresa, avistei, perto da ambulância minha esposa, em prantos, sendo amparada por bombeiros. Claro, ela devia estar preocupada comigo. Corri até ela e a chamei:
- Amor, estou aqui, está tudo bem. Não me feri, olhe só pra mim. Amor!
Minhas palavras pareciam não ser ouvidas. Mais perto, toquei no seu ombro e senti que ela parou por um instante, mas prosseguiu com os oficiais. Mais à frente vi outros familiares muito tristes e um furgão azul e branco parado. Uma caixa metálica estava no chão perto do carro.
Senti um imenso frio na barriga. Ao me aproximar não haviam mais dúvidas. Não teria mais jantar e nem chocolates. Eu estava morto.