O Caso Melinda

"Padre Emílio

Peço que venha depressa me ajudar. O caso tomou dimensões insuportáveis. Os médicos não sabem mais o que fazer. Venha no sábado de noite, para conversamos melhor e o senhor fazer suas orações no quarto dos fundos".

Este é um trecho da carta desesperada de uma senhora que não sabia mais o que fazer com a filha, Melinda, cabelos louros e cacheados, pele clara, grandes olhos verdes.

Melinda tinha apenas sete anos quando começou a sentir fortes dores de cabeça, acompanhados de um comportamento agressivo.

Angustiada e depressiva, a pobre garota passava a maior parte do tempo em seu quarto, segurando uma boneca de porcelana. Os gritos eram constantes. Melinda quase não se alimentava e quando o fazia, costumava vomitar.

Após passar por vários médicos e alguns exames que a precária medicina da época permitia, Melinda ficou incontrolável.

Gritava dia e noite, quebrava móveis e agredia violentamente pessoas. Sua força física era impressionante. O que mais deixava seus pais assustados era a mudança no tom de sua voz. Melinda falava como um homem, e proferia coisas ofensivas.

Após conselho dos próprios médicos, os pais de Melinda resolveram buscar ajuda espiritual. Desesperadamente, chamaram por Padre Emílio, conhecido em sua região por lidar com coisas fora do normal.

Após dois meses de espera, Padre Emílio chegou, trazendo consigo vários apetrechos, entre água benta, objetos de ferro puro e crucifixos.

Ao abrir a porta do quarto, o espírito logo o reconheceu, ficando ainda mais agressivo, apesar de não tocar ou agredir o tal padre.

A sessão de exorcismo começa. Após proferir palavras em latim, o demônio, tomado de ansiedade conseguiu levitar objetos e movimentar móveis. Em determinado momento, tal espírito disse:

- Eu conheço Constância. Ela agora está comigo e a culpa é toda sua.

Constância havia sido uma namorada, que Emílio antes de se tornar padre engravidou de um filho seu, e ao entrar para o seminário, revoltada, a namorada se jogou na frente de um trem, morrendo ela e a criança.

Emílio levou consigo este peso de consciência a vida toda. Tomado pela raiva, o padre dirigiu-se à garota, atacando-a e falando palavras contra o demônio. Durante a agressão, Emílio gritava palavras como "miserável" e "maldito", dirigindo-se até a janela, da qual ambos caíram do primeiro andar, sobre um chão de cimento.

Padre Emílio morreu instantaneamente. Melinda, quase morta, levantou os olhos diante do corpo morto de Emílio, proferindo as seguintes palavras:

- Agora minha vingança está completa, morrendo em seguida.