Pesadelo (miniconto)

Uma sede terrível me fez despertar de um sono profundo. Fui até a cozinha tomar um generoso copo d’agua, pois não havia mais nada para me refrescar. Lá fora um frio ruidoso e a escuridão infindável reinavam absolutos. Ouvi o som que vinha da rua, um canto de sereia misturado com um som lírico, que mais parecia com o assovio de almas penadas. Ao abrir a porta, vejo uma figura reclinada numa velha cadeira de rodas. Os cabelos esbranquiçados, quebradiços; a pele terrivelmente enrugada; o olhar de ódio e resignação. Os lábios dessa figura tremiam como se quisesse proferir a palavra mais difícil do mundo. Fitei-a com o terror encarnado na alma, rezando para minhas pernas receberem algum comando. Era com certeza a figura de uma senhora de mais de cem anos, de respiração ofegante e olhar hipnotizador. Senti-me congelado, preso aos feitiços dela, sem chance de escapar. Num gesto fatal, ela sorriu tenebrosamente e provocou-me calafrios da cabeça aos pés. Nem o portão que nos separava me fazia sentir mais tranquilo. Essa senhora não poderia me agredir fisicamente, mas esse olhar que trazia a imagem da morte poderia arrancar minha alma com uma piscada. Tentei gritar, mas a voz não saia, estava congelada. Depois de muitas tentativas de me mexer, consegui quebrar o feitiço. Acordei em minha cama, assustado, olhando para o teto.

Cleiomar Queiroz
Enviado por Cleiomar Queiroz em 05/03/2012
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