O vale da névoa
Por muitos anos aquele lugar tinha sido amaldiçoado, as pessoas já inventaram diversas histórias sobre aquele lugar misterioso e tenebroso. Mas eu sim sei a história verdadeira, sei porque meu avô me contou antes de morrer, diz ele que recebeu vários papéis em uma espécie de carta de um homem na rua, parecia que ele estava desesperado para se livrar dela, meu avô contente em poder ajudar recebeu a carta e a leu em sua casa, ele jura que nunca mais viu aquele homem misterioso na sua vida, mas o que lhe foi entregue mudou completamente a vida dele. Antes da sua morte meu avô me entregou a carta e me deu algumas informações, mais estas só irei relatar mais tarde.
A carta relatava com os mínimos detalhes o verdadeiro motivo daquele lugar ter ficado tão estranho de dar medo a qualquer ser vivo.
No centro do vale, bem perto do rio que passa por lá morava um jovem agricultor, tinha uma aparência não tão jovem, seus cabelos eram sujos e tinha cor de rato, vivia de barba mal feita às roupas eram surradas, e vivia de uma horta que cultivava, vez ou outra subia as serras que rodeavam e ia vender seus produtos, era quando ele se cuidava, fazia a barba, botava a melhor roupa, pegava o cavalo e subia a serra; a carta relata bem esse momento:
“Ele sai bem cedo, colhe o que vai vender, mas antes não esquece de tomar um belo banho, um dos poucos que toma durante a semana, tudo para ter uma aparência melhor, e poder vender mais. Pega as rédeas do cavalo, além de prender umas cordas em uma pequena carroça, coloca nela toda a mercadoria lavada no leito do rio de águas geladas, e subia a serra para vender seus produtos cultivados atrás da casa”.
A carta relata também o aspecto da região em que aquele homem vivia.
“Não é tão ruim, a casa é aconchegante, tem poucos cômodos é verdade, um quarto, a cozinha é junto com a sala, sem divisões, e o lavabo fica num canto a parte, do lado de fora da casa á poucos metros da janela que era pra ser da sala. Também tem poucos materiais de cozinha mas dá muito bem para sobreviver, ele até que é muito criativo para criar instrumentos úteis com os cipós e pedras da região. A casa fica perto do rio, como se fosse uns 500 metros, o mato é ralo até lá mas por trás da horta, que fica atrás da casa, o mato começa a aumentar, a noite é muito estranho”.
Esta casa antes aconchegante, hoje está entregue aos ventos e aos morcegos e tem as janelas fechadas por dentro com pedaços de madeiras pregado com pregos de tal forma que você não consegue abrir de forma alguma, alguns tijolos estão quebrados e ninguém vive lá há muito tempo. O local também mudou muito, está descuidado e com um ar pesado.
Passagens por passagens de uma carta não tornará este relato agradável de se ler, por isso vou tentar fazer menos relatos, vou contar eu mesma a história.
Em umas dessas idas para as vilas da região ele conheceu uma jovem, tinha ondulados cabelos castanhos escuros, pele branca e olhos também castanhos, era filha de um comerciante de fármacos, no dia que se conheceram ela tarjava um vestido azul claro com rendas que ganhou do seu pai. Ela realmente já tinha visto ele ali vendendo algumas hortaliças mas nunca reparado direito nele, e ele com todas as suas freguesas mal prestava atenção em cada uma, mas naquele dia um viu o outro; começaram uma conversa sobre as melhores alfaces que se podia comprar, como ver se o pimentão estava realmente bom para consumo e daí o assunto foi mudando, infelizmente ela teve que ir para casa, na outra semana foi novamente na feira para ver se o encontrava mas ele não estava lá. Somente depois de dois finais de semana depois daquela conversas que ele se encontram de novo, a conversas não era mais sobre legumes e hortaliças mas sim saber como eles tinham passado a semana, ele realmente ficou encantado com aquela freguesa até que chegou um dia muito especial. Infelizmente prefiro mostrar mais um pedaço da carta neste momento.
“Ah! Já estava tudo pronto, realmente fomos feitos um para o outro, só faltava à confirmação do padre mesmo, a cada ida dele a vila eu me alegrava e sentia algo de diferente em mim, não sei explicar direito ele falava de sua casa e como vivia e eu apaixonada pensava realmente que ele estava se inferiorizando, mas descobri que ele falava a verdade, não que eu esteja me queixando eu até gosto de viver aqui com ele, ele é um marido muito bom.
Nos casamos sete meses depois que nos conhecemos, foi realmente rápido mas mágico e lindo, entrei com meu pai na igrejinha da vila, meu pai estava meio receoso, e não gostava muito do meu marido, mas mesmo a contra-gosto me levou até o altar sorrindo, meu pai estava lindo naquele dia, ele já morreu; morreu um mês depois do meu casamento, meu marido não quis ir ao enterro e esse episódio levou a primeira de nossas brigas. Mas no dia do casamento ocorreu tudo bem, ele estava tão bonito, com um terno lindo, como não tinha sapatos eu dei de presente a ele para ele poder ir para o nosso casamento, ele ia de sandália, mas sandália na igreja não é muito bonito. Ah! Como foi bonito, o momento que ele disse ‘sim’ foi tão maravilhoso. Dia 21 de julho do ano passado vai ser uma data que nunca vai sair da minha memória ”.
As minhas pesquisas revelaram, e eu tenho quase certeza de que os nomes deles eram: Anita Feitosa de Miranda e Ricardo Negreiro Ribeiro. A citação da carta acima mostra que eles tiveram algumas discurssões, a primeira foi porque o Ricardo não queria ir ao enterro do pai dela, ela ficou muito chateada mas contra a vontade dele ela foi assim mesmo, quando chegou em casa ele tinha estraçalhado um de seus vestidos mais bonito e jogado por sobre as árvores da entrada da casa. Nessas brigas muitas vezes, relata a carta, ela costumava se esconder, chegava a chorar sozinha dentro da mata fechada, atrás da casa.
O temperamento de Ricardo realmente é muito controverso, ora ele se mostrava à pessoa mais amável do mundo, outra ora ele se mostrava agressivo, possessivo e ciumento, não gostava quando Anita ia para a vila, mesmo que isso tivesse acontecido poucas vezes, na verdade ela não tinha pra que ir à vila, os únicos conhecidos que tinha eram os amigos de seu pai, e ela já havia notado que eles não gostavam de sua presença em sua casa, talvez por ter casado contra a vontade do pai, mas acredito que seu pai tenha falado para todos que a conhecia que não a ajudassem.
As brigas a cada vez pioravam, não foi só um vestido que ele rasgou, também quebrou um colar que tinha sido da mãe de Anita, e também jogou no rio alguns dos manuscritos que ela fazia sobre a vida deles.
E foi numa dessas vezes fugindo de seu marido no qual ela se escondeu na mata, lá ela descobriu coberto por uma fina camada e terra e algumas folhas, um alçapão, cuidadosamente ela entrou num pequeno cômodo; lá dentro encontrou um lugar iluminado por grossas velas que rodeavam as paredes, a parede era recoberta por várias teias de aranha e tinha um aspecto fantasmagórico, vários chumaços de finos fios caiam do teto do centro do cômodo um pequeno pedestal, recoberto por uma cor dourada, funcionava como suporte de uma vela vermelha, ela ficou naquele lugar esquisito por um certo tempo, na carta mostra que ela via mas não acreditava que um lugar como aquele existia perto de sua casa, não sabia quem freqüentava.
Observou o lugar atentamente e notou que no chão, além das folhas e de muita poeira, havia vários círculos concêntricos com retas cortando todos eles e como ponto em comum, e era justamente neste ponto em que o pedestal ficava, perto da vela circundando-a caindo para os lados várias faixas com símbolos estranhos, os mais estranhos que ela tinha visto. No final de cada reta que cortava os círculos estavam uma espécie de pergaminhos em pé sustentados por algumas pedras, ela não teve coragem de tocá-los pois já estava com muito medo. Ela não agüentou mais e saiu correndo daquele lugar estranho e misterioso.
“Tive a estranha sensação de que minha alegria se esvairia naquele lugar misterioso, aquelas velas e aqueles pergaminhos, chega me dá calafrios...” comenta Anita em uma de suas passagens.
Como era de costume depois de um tempo ela e seu marido reatavam as pazes e tudo voltava ao normal, os risos já ecoavam pela casa com mais tranqüilidade e tudo parecia bem, mas depois do que ela viu ela ficou receosa com tudo, um dia tentou voltar lá mas acabou se perdendo na mata afinal lá tem muitos cipós, troncos tortuosos e a luz mal penetra, tem uma aparência mais estranha ainda quando vai se aproximando o entardecer, demorou muito para achar a saída da mata e voltar para sua casa.
Você deve está achando estranho todas essas passagens que eu falo da carta, mas algo que esqueci de falar é que a carta é enorme deve ter umas trinta páginas ou mais, mas é visível que falta alguns trechos da carta original, acredito que tenha se perdido no passar dos tempos.
Ela não saía muito, mesmo quando seu marido ia para a vila vender as hortaliças ela preferia ficar na casa e foi numa dessas vezes que ela encontrou mexendo no guarda roupa de seu marido um fundo falso na gaveta, lá dentro ela encontrou um medalhão de ouro e alguns papéis, inicialmente estranhou o objeto de valor tão grande estar escondido num fundo falso de uma gaveta mas ao pegar os papeis descobriu algo que o atormentava. A letras que formavam o conteúdo dos papéis que achara eram iguais as que tinham nas fitas que rodeavam a vela do pedestal central naquele lugar misterioso. Mas um dos papéis, o mais estragado, meio queimado foi o que mais lhe chamou atenção, pois era o único que entendia
“As idas e vindas da vida pode nos trazer surpresas desagradáveis q...” um pedaço queimado não deixou ela entender o resto da frase mas em baixo dizia “...nal não viverá para descobrir do que a vida é feita, do que o faz viv...” outro pedaço gasto “perder o que tem de mais valioso... será meu... passar a história para outra pessoa... vontade, só assim... a voz nos prega peças... vale ao norte... tudo.”
Ela realmente não entendeu nada, mas ficou receoso sobre seu marido. Guardou tudo no lugar do jeito que encontrou para não levantar suspeitas. No meio da tarde quando ele chegou, ela fingiu estar passando mal para se afastar um pouco mais dele, nesse meio tempo escreveu:
“Estou com medo, quem será ele de verdade, ele nunca falou do seu passado para mim, aqueles papeis que eu achei hoje e aquele medalhão, todas aquelas letras estranhas, iguais a daquele lugar, eu não agüento todo esse clima.” Em outro momento ela escreveu: “Não consigo dormir direito, sonho com velas, teias de aranhas e pergaminhos, o que era aquele lugar e o que significa aquelas letras, estou com muito medo.”.
Ela não falou com o marido por alguns dias e ele começou a desconfiar a mudez da esposa e ela mesmo relata em suas cartas que ele já está olhando torto para ela, desconfiava de algo, de vez em quando ela tentava esboçar um sorriso mas toda vez que ria e até mesmo quando o beijava lembrava daquele cômodo, do medalhão, e dos papéis com as letras estranhas.
Certa noite porém ele a forçou contar o motivo dela ter estado tão estranha desde que ele foi vender hortaliças na vila. Forçada e depois de ter sido espancada em algumas partes do corpo ela contou a verdade, mas não esperou ele fazer qualquer coisa, abriu a porta da casa correu em busca do cavalo, que estava preso do lado de fora da casa e saiu em direção à vila cavalgando; atrás dela, sem poder fazer nada, estava Ricardo gritando pedindo que ela voltasse. Sem olhar para trás ela continuou a galopar serra acima, seus ondulados cabelos castanhos balançavam com o vento e até o prendedor que segurava seu cabelo caiu o que deu mais movimento aos seus ondulados cabelos, suas mãos iam e vinham balançando as rédeas, enquanto subia a serra só queria chegar à vila, provavelmente já vazia pela hora, deveria ter algum antigo amigo de seu pai disposta a ajudá-la pensava, estava desesperada, a cada passada do cavalo ela pensava em círculos concêntricos, em velas, no medalhão...
O cavalo já cansado chegou na vila marchando, andando devagar. Já era noite alta quando chegou, poucas luzes estavam acessas, foi em direção a casa de um dos amigos de seu pai, por mais que batesse ele não atendeu, depois meu avô soube que esse amigo estava em casa e se recusou a atendê-la e ficou a observando pelas frestas da janela as tentativas de Anita pedir auxílio. Sem escolha foi para a casa de seu pai há muito tempo vazia, mas pelo menos tinha um teto para ficar.
A partir daqui não encontrei muitos relatos escritos sobre o aconteceu com ela, afinal na pressa de sair de sua casa ela esqueceu seu caderno de anotações, as folhas que compõe sua carta são pedaços do caderno de Anita que meu avô recebeu. O que contarei agora serão as pesquisas de meu avô sobre a vida de Anita Feitosa.
Depois que ela saiu da casa de seu marido e ter se dirigido á vila, por lá ficou por um certo tempo, não quis voltar em seguida para a casa do vale, por medo talvez, mas o que meu avô escreveu e me confidenciou antes de sua morte é que nesses dias que ela ficou na vila foi para a casa fechada de seu pai, tentou falar com os antigos amigos de seu pai mas nenhum deles lhe deu auxílio, na casa onde estava, vasculhou certas gavetas e encontrou em uma nota no final do caderno a seguinte mensagem datada do dia 21 de julho: “hoje vai ser o casamento de minha filha estou descontente com seu casamento foi muito rápido, eu mal conheço o homem que ela irá se casar, mas espero que eles sejam felizes, mas existe algo de estranho nele, algo que eu não sei explicar.”; ela deve ter pensado que o pai sabia de algo sobre seu marido e não quis confidenciar para ela, e mesmo que tivesse avisado será que ela acreditaria? Eu acho que não, na época ela estava tão apaixonada por aquele vendedor de hortaliças. Meu avô chegou a ir para a vila e conversando com os mais velhos soube relatos do período que ela estava na cidadezinha em cima da serra, diziam que vez ou outra ela ficava vagando pela vila pedindo alguma ajuda, mas quase ninguém ajudava.
A necessidade, então, a fez voltar para a casa do vale. A população por um certo lado ficou contente por vê-la voltar para o vale, não porque ela ia voltar para seu marido mas sim por que ela ia finalmente embora da cidade, e foi a partir daí que começou os boatos e as histórias sobre a vida de Anita e as coisas que contam do vale.
Ela voltou, enfim para a casa do vale, meu avô não conseguiu muitos detalhes aqui a mais para investigar, mas a pessoa que entregou as cartas pra ele sim, não sei como ele conseguiu esses dados mas são os que me parecem mais coerentes. Ela passou a viver novamente com seu marido e ele a contou sobre tudo, ainda meio receosa, mas não escondeu nada dela. Não era para ela ter medo, disse que escondeu aquele segredo dela por não querer que ela se perturbasse com a história, a ensinou a ler aquelas palavras misteriosas e ela descobriu que por trás de tudo aquilo estava uma maldição. A vela no centro do pedestal significava a vida de seu marido ele já tinha pesquisado vários feitiços para fazer com que ela parasse de derreter, um dos feitiços que ele aprendeu com uma velha bruxa de seu povoado distante estava ali nas pontas das retas que cortavam os círculos, todos aqueles pergaminhos em pé, presos com pedras foi o feitiço mais eficiente que ele descobriu para diminuir a velocidade que a vela derretia.
Ele também mostrou o que realmente estava escrito no papel queimado, realmente não dava pra ler o que havia se perdido pelo fogo mas ele a levou para o cômodo no meio da mata e na parede mais ao sul estava escrito na pedra:
“As idas e vindas da vida pode nos trazer surpresas desagradáveis, quem sabe se sua alma não fosse mais sua. Mas você será meu, você afinal não viverá para descobrir do que a vida é feita, do que o faz viver, do que o move, do que o mantém vivo. Só a um jeito de descobrir quando você perder o que tem de mais valioso e se desprender de tudo, mas mesmo assim você ainda será meu, tudo segue uma linha então terá que passar a história para uma outra pessoa e ela terá de receber por livre espontânea vontade só assim estará realmente livre, mas não pense que é fácil, as vozes nos prega peças, vá para o vale ao norte e saberá de tudo.”
Temerosa ela prometeu para si mesma que não entraria mais lá, uma promessa que não durou muito tempo depois de ter descoberto toda a verdade e ter aprendido a ler aquele alfabeto estranho, mas como a própria mensagem da parede dizia: As idas e vindas da vida podem nos trazer surpresas desagradáveis; e foi exatamente o que aconteceu. Mas apesar de tudo Anita passou a amar mais do que nunca seu marido, e foi esse amor que os fizeram suportar a maldição por um certo tempo.
Acredito que até aqui esse homem de quem meu avô recebeu as cartas conseguiu descobrir em algum trecho do caderno de Anita que ela deve ter voltado a escrever depois de ter voltado para a casa do vale. Mas os originais desses trechos nem eu, nem meu avô, tivemos acessos nem conseguimos descobrir nada.
O que acontece em seguida, foi meu avô que me contou, já desesperado por não conseguir mais informação ele foi até o vale e já naquela época a paisagem já estava diferente do que Anita nos conta em, seus relatos.
“Cheguei logo cedo...” escreve meu avô “... o lugar tem uma aparência estranha é meio tenebroso, o chão está repleto de folhas secas, olhando para as árvores você não sabe como elas conseguem sobreviver no meio dessa atmosfera pesada, mas mesmo assim dá para perceber como elas estão feias, seus caules são retorcidos, tem vários cipós na região, a casa está sem uns pedaços do telhado, o muro de tijolos, antes arrumado está com vários buracos; tem as janelas fechadas por dentro com pedaços de madeiras pregado com pregos de tal forma que você não consegue abrir de forma alguma, atrás da casa temos um lugar que não cresce nada, tem cerca ao redor acho que esse deveria ser o antigo local onde o homem plantava suas hortaliças para vender, tudo é escuro aqui. Tentei entrar na casa pelo telhado, tem uma fresta ótima no lado oeste da casa; lá dentro se vê como tudo está acabado, a mesa está emborcada, as cadeiras caídas, tem barulhos de morcegos em volta e o vento cria vozes fantasmagórica quando passa pelas frestas, está tudo empoeirado. Na parede da sala está escrito aos garranchos: ‘Levei o que você tem de mais precioso’. Vou ver se eu consigo achar o alçapão que leva ao cômodo.”
Em outro trecho o meu avô escreve “...achei está na minha frente à vela da minha vida, vermelha como descreveu Anita, essa vela queima na mesma velocidade que minha vida se acaba, já me escondi de todos me afastei da minha família e larguei o emprego tudo para ter minha vida de volta será que eu vou conseguir sair dessa maldição? Eu não me recordo se Ricardo conseguiu se livrar dela. O pedestal é de ouro se eu não me engano, com os panos em volta,vou ter trabalho para tentar traduzir essas palavras mesmo sendo eu um lingüista. Mas de alguma forma Ricardo conseguiu, então devo tentar até conseguir.
O pedestal é tal e qual o eu via nos meus sonhos, os círculos no chão, todo esse ambiente é a primeira vez que eu venho aqui mas parece que eu já conheço há muito tempo, mas mesmo com essa sensação de já ter vindo a este lugar, sinto medo, sinto como se eu jamais conseguisse viver de novo como antes, com a mesma alegria, esse lugar me dá muito medo, estou temeroso, uma coisa que eu não estou entendendo Anita fala de uns pergaminhos, mais eu não estou os vendo no chão, em outro momento ela menciona uns fios caindo do teto, o que são eles? Vou olhar.”. Ele pára um pedaço e continua minutos depois: “Acabei de ter um dos maiores sustos que tive na minha vida, estou fora do cômodo já, puxei os fios que estavam no teto e encontro um crânio, um crânio humano esse lugar não é dos mais alegres concerteza e o pior quando eu estava de saída tenho certeza que vi uma caveira olhando para mim do centro do cômodo tocando no pedestal, mas quando olhei de novo ela não estava mais lá, será que foi impressão minha?. ”.
“Realmente todo esse lugar me dá calafrios, agora a pouco quando eu estava saindo algo aconteceu comigo, era como se eu não estivesse aqui subiu uma névoa do chão e eu comecei a escutar e ver coisas. Primeiro eu vi o alçapão que leva ao cômodo estranho se fechando, no segundo seguinte eu ouvi uivos vindo de todos os lugares e não sei como explicar mas o alçapão se abriu sozinho e levantou muita poeira, vi vultos de animais entrando no cômodo e de repente gritos, gritos de terror, de medo, escutei barulho de coisas se quebrando e uma espécie de luta, estava imóvel no meu canto, seja lá quem estivesse ali dentro estava em perigo. Vi em seguida uma mulher saindo do cômodo tinha cabelos castanhos escuros, pele branca e uma voz que demonstrava medo, ela gritava:
--- Vamos saia daí correndo. Não vai dá tempo, vamos embora, vamos correr.
--- Eu tenho que terminar, senão ele vai me perseguir por toda a vida. --- gritou uma voz masculina.
--- Vamos saia daí correndo --- Gritava a mulher desesperada.
Sem ela notar outras sombras a circunda, a cada momento ela ficava mais desesperada.
Neste momento meu coração batia desesperadamente, estava aflito por ela, e pela pessoa que estava lá dentro mas não podia me mexer, não sabia o que fazer, só podia assistir.
Então mais um barulho alto, e um homem de aparência forte saiu do cômodo onde eu estive há pouco tempo, e grita:
--- Ele me atrapalhou, os pergaminhos voaram pelos ares, talvez nós... --- ele interrompe o que estava falando e grita --- Anita, Anita, cadê você?
Realmente estava tão preocupado com os barulhos dentro do cômodo que eu nem notei que Anita não estava mais ali. Não longe dali uma voz grita pedindo ajuda, veio da direção da casa. Um clarão me impede de ver o resto, não sei o que se sucedeu mas de repente eu me encontro no meio da casa, Anita e o Homem que saiu do cômodo estavam desesperados fechando as janelas e pondo as pressas madeiras nelas, travaram também a porta colocando a mesa em frente a ela, rebolaram também pedras para que dificultasse a entrada de qualquer pessoa, ou qualquer coisa.
--- Vamos Anita, rápido com isso senão ele irá entrar.
A mulher de cabelos ondulados, estava fechando a janela do quarto, enquanto isso se ouvia uivos e passos do lado de fora da casa. Uma batida forte na Janela pelo lado de fora e Anita gritou, o martelo caiu de sua mão e acertou seu pé ela caiu no chão de tanta dor e começou a chorar.
--- Vamos Anita isso não é ora de chorar, vamos levante-se e lute comigo, eu preciso de você Anita, EU PRECISO DE VOCÊ. --- Vociferou o homem.
--- Vá eu estou bem, é só um machucado --- falou Anita, tentando demonstrar coragem --- continue a fechar a casa, não se preocupe comigo.
Ela ia se arrastando para perto da porta, passou pelo guarda-roupa e pela cama, enquanto que o homem reforçava as janelas e a porta, fazia muito frio naquela noite. E como um assalto uma imensa fera caiu do teto, quebrando as telhas. Era enorme, tinha dentes imensos, e garras afiadíssimas nas patas, tinha um pêlo cinza escuro que ia escurecendo à medida que chegava na cauda, ele grunhia de forma estranha e como se estive entendendo o que estava dizendo o homem falava.
--- Você não vai me pegar, VOCÊ NÃO VAI ME PEGAR.
Ele se afastava na mesma proporção que a fera avançava; e da mesma forma que ela entrou, subitamente, ela deu o impulso para desferir seu ataque, mas quase que prevendo o ataque Anita num último esforço, fica na frente do Homem corpulento e recebe toda a mordida no peito e cai morta no chão. Na mão dela estava o mesmo medalhão que eu carrego em meu bolso, cinco círculos concêntricos com oito retas que os cortam de forma igual e com um ponto em comum.
--- NÃÃÃÃÃÃÃÃO --- Gritou o Homem.
Um uivo mais longo foi ouvido e o vento silabava:
“Você perdeu o que tem de mais valioso e se desprendeu de tudo na fuga, mas mesmo assim você ainda é meu, ainda é meu... , tudo segue uma linha... você ainda não está livre.”
O lobo saiu pelo mesmo canto que entrou, O homem sentou aos pés de Anita morta no chão e chorou como nunca, fechou seus olhos e disse aos sussurros.
--- Eu vou acabar com isso agora.--- Ele retirou o medalhão da mão da mulher e se dirigiu até o guarda-roupa e tirou alguns papeis, provavelmente os mesmo que se encontram na minha agenda. Saiu pelo mesmo buraco do teto, escutei ele pegar o cavalo e sair a galope subindo a serra.
Um novo clarão e me vejo numa estrada semideserta somente com um homem no chão perto de onde eu estou aos farrapos e uma carroça vindo em nossa direção. O homem aos meus pés estava tremendo, a carroça parou e a minha surpresa quando eu vejo o mesmo homem que há alguns anos me entregou um rolo de papéis e um medalhão, aqui ele está sorridente e gordo diferente do homem que eu vi há alguns anos, que estava definhando, magro e sem nem sinal de que um dia foi alegre na sua vida.
--- Opa! Eu posso ajudá-lo. --- Falou o homem da carroça.
--- Não, acho que o senhor não possa.
--- Ora, ora por que? Eu não posso mesmo ajudá-lo? --- falou novamente o bondoso homem.
--- Acho que o senhor não gostaria --- sussurrou o homem aos meus pés, ele levantou a cabeça e foi quando eu reconheci, como o homem que estava desesperado naquela casa do vale --- Mas sim pode me ajudar. Se o senhor não se incomodar, o senhor poderia ficar com esses meus pertences?
--- Claro, poderia saber o seu nome pelo menos?
--- Eu não me lembro mais quem eu sou, já perdi tudo. O senhor faria esse favor para mim?
--- Claro, me entregue o que o senhor quiser.
E ele entregou, por um momento vi um breve brilho no olhar do homem que estava no chão.
--- Obrigado, é muito importante para mim.
E o homem saiu na carroça deixando o outro ali, no meio da estrada.
Vi um novo clarão, ao mesmo tempo em que senti como uma névoa saindo do chão e encostando em mim, por um momento senti como se estivesse flutuando no ar e tudo ia desaparecendo a estrada o homem no chão e no segundo seguinte me vi no meio da mata perto do alçapão de novo. Olhei para todos os lados antes de seguir, será que aquilo foi mais um dos meus pesadelos, mas esse foi muito diferente, parecia tão real, parecia que eu estava realmente presenciando aquilo tudo.”.
Aqui acaba um dos depoimentos do meu avô, sobre as pesquisas que ele realizou, acredito que isso não foi um sonho como ele fala e sim ele presenciou o último momento de Anita e a passagem dos documentos e do medalhão para a pessoa seguinte, o homem da carroça, que eu descobri que se chamava Hilder. Dessa forma, depois de Ricardo, meu avô foi à segunda pessoa que recebeu a maldição e agora eu é que estou com ela.
Por muito tempo meu avô ficou longe de nossas vidas ele voltou um pouco antes de sua morte. Já no leito de morte, meu avô usou todas as forças que tinha e me contou tudo, ou melhor o que eu pensava que ra tudo, pedindo de uma forma semelhante ao homem que lhe entregou as cartas, eu recebi esse fardo de meu avô e agora tenho que passar a outra pessoa, por enquanto a vela acesa no cômodo na mata do vale pertence a minha vida e preciso entregar para outra pessoa se eu quiser viver. Mas onde eu estou não dá pra fazer nada.
Encontro-me presa, não sei como passar isso para ninguém, eu não irei morrer até que eu consiga passar esse fardo para alguém, prefiro definhar a transformar a vida de outra pessoa em ruína; a única coisa que se encontra comigo de todos os documentos que foram passados de mão em mão até mim é o medalhão, as cartas para se alguém encontrar estão enterradas debaixo da mesa caída lá na casa do vale. Estou preocupada, meus pesadelos pioram a cada dia. Sabe de uma coisa preferi ser presa, assim fujo de tudo como Ricardo fez quando montou aquela casa perto do cômodo. Ricardo e Anita tentaram destruir a Maldição mas foram descobertos; eu não teria sucesso sozinha.
Pesquisei muito sobre a vida de Anita e Ricardo, e de Hilder, e todas as minhas pesquisas se encontram enterradas debaixo da mesa da casa do vale, junto as cartas. Que hoje o chamam de vale da névoa, na vez que eu fui lá realmente achei bem mais estranho do que relata o meu avô uma densa neblina paira a poucos centímetros do chão por todo o local e o frio que faz por sobre o vale do norte é de congelar os ossos, vultos estranhos passam por você, você perde a noção do tempo, a atmosfera é pesada e tenebrosa. Na verdade todo aquele vale se tornou um ambiente onde vivem o terror e as sombras, você deve estar se perguntado, então, o motivo de eu ter escondido os documentos lá, por que só quem estar realmente desesperado e com medo entraria lá a procura desses documentos.
Essa é a verdadeira história do vale da névoa, talvez você já tenha escutado, mas acho que não da pessoa que carrega o fardo do vale, o medalhão. Obrigada pela atenção, me despeço aqui. Tudo mais que eu tenho a contar está no próprio vale, mas espero realmente que você não vá atrás. Entretanto depois disso tudo que relatei a você, caso você aceitasse me ajudar, adoraria. Eu só preciso que aceite um presente, ele é de ouro e concerteza ficaria perfeito em seu pescoço.