FECHEM PORTAS E JANELAS, HOJE É SEXTA-FEIRA 13
(texto já publicado - revisado)
 
 
O vento assoviava forte assolando  a planície gelada dos pampas.
 
Os cavaleiros açoitavam seus cavalos, tinham muita pressa de chegar pois a tormenta se formava no céu enegrecido.
 
Início da longa noite, eles estavam desorientados pois não sabiam ao certo o rumo a tomar...
 
Pássaros revoavam ligeiros rumo aos abrigos das poucas árvores existentes no lugar.
 
Relampejava, coriscos cortavam os céus iluminando por segundos aquelas paragens solitárias e sombrias.
 
Ao longe, os uivos dos lobos famintos e enraivecidos estimulavam a corrida insana dos cavalos e arrepiavam a espinha dos perdidos aventureiros.
 
Ruídos estranhos no ar: pios de coruja, sons agudos de morcegos voejando na noite e sombras de sinistras figuras nos capões de mato.
 
Repentinamente um  gemido estranho , incrível e inumano proveniente da ermida abandonada.
 
Cavalos e cavaleiros pararam bruscamente diante da construção carcomida pelo tempo.
 
A cruz negra de mais de 5 metros de altura envolta por trepadeiras de cipós lhes indicava o portal de ferro retorcido e enferrujado.
 
Fora o único refúgio encontrado, embora aterrador,  se obrigaram  a apear.
 
Os animais foram abrigados nos fundos da capela às escuras e amarrados nos palanques de madeira que circundavam a propriedade.
 
O lampião a querosene foi aceso, adentraram no recinto empoeirado e úmido...
 
Um frio percorreu-lhes as espinhas, um mau cheiro ocre, quase palpável, viscoso penetrava-lhes nas narinas causando-lhes imenso asco.
 
Mas estavam cansados, e assim, no desconforto estenderam os pelegos de carneiro no solar em ruínas, improvisando suas camas.
 
Foram surpreendidos novamente com os gemidos estarrecedores que lhes atordoaram os ouvidos.
 
Morcegos circulavam sobre suas cabeças emitindo um grunhido agudo e desagradável.
 
Olharam-se sem dizer palavra e dirigiram-se aos fundos da capelinha, evitando pisar no assoalho apodrecido para evitar possíveis quedas e escoriações.
 
A luz bruxuleante do lampião lhes revelou um quadro sinistro.
 
Visão  do inferno, frente ao pequeno altar: ossadas humanas, machadinhas e facas manchadas de sangue evidenciavam a violência ocorrida.
  
Uma chacina inexplicável dentro dos domínios de Deus  para sempre gravada nos olhares estarrecidos dos viajantes que desvairados largaram todos seus pertences e na madrugada do medo vagaram pelos campos até serem avistados por alguns cavaleiros dum acampamento na periferia que os acolheram.
 
- O que ocorreu perguntaram-lhes???
 
Mudos de pavor, olhos esbugalhados, emitindo grunhidos estranhos só puderam apontar para o lado norte do caminho fazendo estranhos sinais com as mãos.
 
No outro dia os vaqueiros do acampamento puderam comprovar que a  estória realmente acontecera num local denominado de  Campina das Mortes.
 
Os ponteiros do relógio ao lado do altar-mor estagnaram no terrificante horário das 24 horas daquele dia 13, sexta-feira e ninguém desvendou até hoje o temeroso mistério.
 
Pedro e Donizete, os vaqueiros protagonistas da aventura sombria jamais recuperaram a fala e a razão, eles se encontram até hoje internados num manicômio judiciário do Rio Grande do Sul.